A relação com a China, principal fator de expansão das exportações de produtos agrícolas brasileiros nas últimas duas décadas, deve ganhar na diversificação de produtos, explorando novas oportunidades, disse em entrevista à Xinhua Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O ano encerrado foi marcado pela comemoração dos 50 anos de relações diplomáticas entre Brasil e China, o que permitiu uma série de avanços nas questões comerciais e políticas entre os dois países. Foram realizadas aberturas de mercado, acordos de cooperação técnico-científica, acordos de compra de produtos e outras iniciativas.
A China continua sendo o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, com saldo de US$ 47,3 bilhões entre janeiro e novembro de 2024, sendo a soja seu principal produto. A importância do mercado chinês é evidenciada por ele superar em muito os demais parceiros comerciais do Brasil, que vendeu produtos agrícolas à União Europeia por US$ 21,7 bilhões e aos Estados Unidos por US$ 10,9 bilhões no período.
Em relação ao Porto de Chancay, construído pela China no norte do Peru, Mori disse que poderá contribuir no futuro para melhorar a competitividade dos produtos brasileiros, facilitando a logística.
"Nossa expectativa é positiva. Visitamos o porto e levamos um grupo de produtores para conhecer o local e acreditamos que facilitará o comércio, agilizando a logística e reduzindo custos e prazos de transporte, principalmente de produtos perecíveis", afirmou.
"Esperamos que isto aumente a nossa competitividade não só com a China, mas com toda a Ásia. Embora ainda haja falta de infraestruturas para chegar lá em alguns trechos, como estradas, vemos grandes oportunidades", observou.
Mori fez referência à nova Lei de Segurança Alimentar da China e ao Documento Número 1, principal diretriz para o setor agrícola chinês, que destaca a importância de buscar a autossuficiência na produção de grãos. Embora os documentos apontem para um crescimento da produção chinesa, as importações esperadas continuam significativas, com aumento mesmo em áreas como frutas, carnes e lacticínios.
"A nova lei é uma grande oportunidade para nós. Conhecemos agora mais claramente as necessidades da China em termos de importação de alimentos. A China procura eficiência e segurança nos seus fornecedores e devemos antecipar as suas necessidades", afirmou.
"Devemos diversificar e estar atentos a estes movimentos e apostar na manutenção e expansão da nossa cooperação com a China, não só no comércio, mas também nas parcerias estratégicas e tecnológicas", sublinhou.
As frutas brasileiras, por exemplo, têm potencial se os desafios logísticos de seu transporte competitivo forem resolvidos.
"Há um grande potencial em produtos como café, sorgo, frutas, gergelim e nozes pecan. O consumo de café na China está crescendo rapidamente, o que levou a um aumento nas importações a partir do Brasil, que cresceram mais de 200% nos últimos anos. Também abrimos mercado para o sorgo e o gergelim, e as uvas também estão sendo exportadas", disse Mori.
A diretora destacou a importância da cooperação bilateral além do comércio, que pode abrir novos horizontes para o setor.
"Penso que deveríamos nos concentrar mais no desenvolvimento de parcerias estratégicas, na cooperação, na criação de projetos conjuntos com benefícios mútuos, e em estarmos juntos, por exemplo, no estrangeiro, para abordar interesses comuns. A China tem um grande peso geopolítico. Estamos falando de comércio, mas também de investimento e tecnologia", observou.
"Por exemplo, o esforço da China para aumentar a sua produtividade baseia-se na tecnologia, na biotecnologia e nas sementes. O documento destaca constantemente a importância da indústria de sementes, entre outras coisas, por isso penso que esta é também uma oportunidade para expandir a nossa cooperação", destacou.
Além disso, em 2024, a CNA realizou diversas iniciativas para ampliar a sua presença no mercado chinês. Entre as principais está a assinatura de um Memorando de Entendimento com o China Media Group, para promover a troca de informações entre ambas as partes.