Pedro Sobral*
Com a inauguração de um novo Executivo e a presença do Presidente Xi Jinping, eram grandes as expetativas para a cerimónia de celebração dos 25 anos do retorno de Macau à China. A extensiva cobertura efetuada pelos órgãos de comunicação social chineses (incluindo a CGTN, para a qual tive o gosto de colaborar como comentador) às celebrações não deixou dúvidas que o dia pertencia a Macau, aquele território diminuto no extremo meridional da China e que foi apelidado pelo Presidente Xi como a “pérola na palma da Pátria”. Prestado o devido reconhecimento aos avanços verificados em Macau no último quarto de século, nomeadamente a nível da segurança, qualidade de vida, para não falar de uma notável recuperação pós-pandemia, a tónica foi colocada nas necessidades de desenvolvimento futuro do território.
Os discursos do Presidente Xi e do novo Chefe do Executivo da RAEM Sam Hou Fai deixaram clara a determinação de redobrar esforços no novo rumo definido para Macau: uma economia mais diversificada, maiores garantias de habitabilidade e emprego, o reforço da preservação da segurança nacional, uma maior integração no processo de abertura de alta qualidade do Interior da China, para não falar da preservação e valorização da diversidade que desde há tantos séculos tem sido imagem de marca de Macau. Rumo este que, longe de ser novidade, foi reiterado com maior urgência durante a cerimónia.
O momento foi também uma celebração do princípio “Um País, Dois Sistemas”, no contexto do qual foram realçadas as particularidades de Macau e que a distinguem da sua vizinha na outra margem do Delta. A indústria do jogo tem ainda um papel predominante no tecido setorial do território, o que não se coaduna exatamente com as prioridades de desenvolvimento da Grande Baía e da China como um todo. A diversificação da economia, traçada em torno de um modelo 4+1 que reserva mais importância a setores emergentes como o da medicina tradicional chinesa, finanças e tecnologia de ponta, promete ser a prioridade face a “profundas alterações nos ambientes interno e externo.” Colmatar as insuficiências do território, como a falta de profissionais qualificados e de espaço físico para desenvolvimento, sevem ser também prioridade. Nesse sentido, o território compromete-se a captar mais profissionais qualificados e a formar jovens talentos em áreas prioritárias, objetivo no qual as instituições de ensino superior de Macau, em tendência ascendente, terão um papel fulcral. Essencial será também Hengqin, cuja Zona de Cooperação Aprofundada proporciona a Macau uma abundância de território por explorar e oportunidades de sinergia e de integração regulamentária com a província de Guangdong.
As cartas estão, portanto, na mesa para o Executivo encabeçado por Sam Hou Fai, alumnus da Universidade de Coimbra e falante de português. Uma escolha sensata, uma vez que a ligação com os países de língua portuguesa continua sendo um pilar da estratégia de desenvolvimento do território, ainda que por vezes pouco aproveitado. O Chefe do Executivo promete aproveitar as vantagens únicas de Macau e fortalecer as ligações internas e externas, o que implica nomeadamente “promover uma cooperação abrangente e mutuamente benéfica com os países de língua portuguesa”. Fica por ver que moldes irá tomar esta cooperação. O próprio Presidente Xi mostrou-se bem ciente dos laços históricos que unem Macau a Portugal e aos países de língua portuguesa, laços esses que são indissociáveis do papel de “porta da China para o mundo” que Macau sempre desempenhou. Passada metade do período de transição estabelecido com a administração portuguesa em 1999, não é descabido pensar que os passos dados nos próximos anos irão determinar o posicionamento da plataforma lusófona no desenvolvimento vindouro do território.
*O autor é leitor de português na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang.