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“Mais exportações = sobrecapacidade”?, trata-se de uma falácia

Fonte: Diário do Povo Online    24.04.2024 21h57

No ano passado, as exportações dos denominados "três novos itens para exportação" (carros elétricos, baterias de íon-lítio, painéis fotovoltaicos) da China ultrapassaram um trilhão de yuans pela primeira vez, no que se traduziu em um aumento de quase 30% em termos anuais.

Muitos membros da comunidade empresarial internacional elogiaram a China pela sua firme promoção da sua transformação verde. No entanto, algumas individualidades nos Estados Unidos acusam essa nova indústria da China de padecer de "sobrecapacidade", argumentando que "o excesso de mercadorias exportadas significa sobrecapacidade".

Tal argumento é falacioso.

Nicholas Lardy, membro sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional, um think tank americano, disse sem rodeios: "Esta visão parece indicar que nenhum país deve produzir produtos além da sua capacidade de vendas domésticas".

De acordo com a lógica de algumas pessoas nos Estados Unidos e de alguns países ocidentais, se a capacidade de produção de um país excede a sua procura interna, tal significa que existe uma "sobrecapacidade". Deste modo, dado que os Estados Unidos exportam grandes quantidades de chips, aviões, soja e outras mercadorias diariamente, poder-se-á deduzir então que padecem também de "sobrecapacidade"?.

Será que a China exporta realmente demasiados produtos de novas energias?

Em termos de taxa de crescimento, os "três novos" produtos da China tornaram-se populares em todo o mundo nos últimos dois anos, alcançando um rápido crescimento de vendas. No entanto, em termos proporcionais, as exportações de veículos de novas energias da China representam uma parcela muito menor em comparação com a produção de países como Alemanha, Japão e Coreia do Sul.

A título de exemplo, a Alemanha produziu 4,1 milhões de automóveis no ano passado, dos quais 3,1 milhões foram exportados para o exterior, representando quase 80% do total. No ano passado, a China produziu 9,587 milhões de veículos de novas energias e exportou 1,203 milhões, representando apenas um oitavo do total.

Será a capacidade de produção verde da China realmente “excessiva”?

No enquadramento de uma economia de mercado, o equilíbrio entre a oferta e a procura é relativo e o desequilíbrio é um fenômeno comum. A oferta que exceda moderadamente a demanda conduz à promoção da concorrência no mercado, à sobrevivência dos mais aptos, à inovação tecnológica e à redução de custos. Tudo isso contribui para que os consumidores em vários países obtenham melhores produtos e serviços a custos mais baixos.

O preço é um importante “cata-vento” para julgar a relação entre oferta e demanda. Se houver “sobrecapacidade”, como referem as individualidades supracitadas, o preço dos produtos de novas energias da China no mercado internacional deverá continuar a ser baixo. À medida que as exportações de veículos elétricos da China aumentam, aumentam também os preços. O preço médio de venda dos principais veículos eléctricos da China na Europa é cerca do dobro daquilo que é praticado na China. O aumento da quantidade e do preço significa que a oferta excede obviamente a procura. Podemos, porém, falar de “sobrecapacidade”?

Ao analisarmos as questões de capacidade de produção, devemos também manter uma perspectiva global.

Atualmente, há ainda um enorme espaço para o crescimento do setor de veículos de novas energias nas cidades e mercados rurais de terceiro e quarto escalões da China. Alguns analistas preveem que a taxa de penetração de veículos de novas energias na China venha a aumentar de 35,2% em 2023 para 60% em 2033. Por outras palavras, satisfazer as necessidades crescentes de mais de 1,4 bilhão de chineses por uma vida melhor é algo inseparável do desenvolvimento da indústria de novas energias, da melhoria da capacidade de produção e dos níveis tecnológicos. Ninguém está qualificado para criticar essa realidade.

De acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia, a demanda global de veículos de novas energias atingirá as 45 milhões de unidades em 2030, mais de quatro vezes a de 2022. A demanda global por novas capacidades instaladas de energia fotovoltaica atingirá 820 gigawatts - aproximadamente quatro vezes a de 2022. Longe de haver um “excedente” de novos produtos energéticos no mercado global, na verdade, há escassez! Como importante fabricante de produtos ecologicamente sustentáveis, a China não tem motivos para não aderir e participar ativamente nesta transição.

Com efeito, no domínio das novas energias, as empresas chinesas continuam a contribuir para o resto do mundo: na Hungria, a BYD está construindo faseadamente uma nova base de produção de veículos energéticos, a qual deverá criar milhares de empregos locais. Na Tailândia, a Changan, SAIC, BYD e outras empresas estão construindo fábricas ativamente, cujo investimento total planejado supera os 10 bilhões de yuans. Quer se trate da exportação de produtos para satisfazer as necessidades do mercado global, da construção de fábricas no estrangeiro para estimular o investimento, da criação de emprego e expansão da sua atividade, as empresas chinesas associadas ao setor das novas energias procuraram sempre o garantir o benefício mútuo, resultados vantajosos para as partes envolvidas e o desenvolvimento comum.

Essa postura granjeou também elogios de muitas personalidades internacionais: o website da revista americana "Diplomat" observou que os países do Sudeste Asiático se esforçam ativamente para firmarem acordos de cooperação com empresas chinesas de veículos elétricos, "não apenas fortalecendo a inevitável transformação de veículos movidos a combustíveis fósseis em veículos elétricos, mas também através do intercâmbio de tecnologia, o qual é promotor do crescimento econômico”.

Acusar a China de sobrecapacidade esconde as más intenções do protecionismo comercial. O ponto de vista do empresário francês Bertrand vai direto ao ponto nevrálgico: "A questão resume-se à competitividade, não à capacidade de produção. Alguns países ocidentais estão preocupados com o fato de a China estar se desenvolvendo demasiado rapidamente e das empresas chinesas estarem se tornando cada vez mais competitivas, o que irá se traduzir em ameaças ao status quo até agora verificado nos setores relacionados".

Vincular o desenvolvimento das indústrias de novas energias no plano global a um protecionismo comercial míope irá, certamente, enfraquecer a capacidade dos países para lidar com as alterações climáticas e de promoverem o desenvolvimento verde. Isso acabará por resultar em "dar um tiro no próprio pé".

O comércio internacional não é um “jogo de soma zero”. Nenhuma contracorrente pode conter a maré da globalização econômica inclusiva e benéfica. Com base na cooperação e no benefício mútuo, o mercado global de produtos sustentáveis crescerá cada vez mais e o futuro da sociedade humana só terá a beneficiar com isso.

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