A Polícia Federal (PF) brasileira prendeu neste domingo os três supostos autores intelectuais do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, na noite de 14 de março de 2018, um crime que comoveu o país e teve repercussão internacional.
A pergunta "Quem mandou matar Marielle Franco?", que viralizou e correu o mundo, começou a ser finalmente respondida quando uma operação da Polícia Federal, realizada na primeira hora da manhã deste domingo cumpriu mandados de prisão preventiva contra os irmãos Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, e Chiquinho Brazão, deputado federal do Rio de Janeiro pelo partido União Brasil, além de Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio.
A operação da PF deste domingo, chamada Murder Inc, também envolveu 12 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro. Os três detidos já foram levados para Brasília e passaram a noite na penitenciária da Papuda.
As detenções ocorrem cinco dias depois que Ronnie Lessa, considerado como o autor dos disparos que mataram Franco e Gomes e na prisão desde 2019, chegou a um acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF) para uma delação premiada na qual indicou os mandantes e a motivação do crime.
Os investigadores decidiram realizar a operação na primeira hora de domingo para surpreender os suspeitos, já que informações da inteligência policial indicavam que eles já estavam em alerta nos últimos dias e preparavam fugas, depois que o STF anunciou a homologação do acordo de colaboração de Ronnie Lessa, um ex-policial militar.
Os autores intelectuais, segundo Lessa, fazem parte de um poderoso grupo político do Rio de Janeiro com diversos interesses em diferentes setores do Estado. O ex-policial deu detalhes de reuniões com ele e pistas sobre seus motivos.
Segundo informações dos meios locais, a morte de Marielle teria sido encomendada por conta da resistência da vereadora a um projeto de lei que regulariza condomínios na zona oeste do Rio de Janeiro, que tem bairros controlados por milicianos que exploram empreendimentos imobiliários.
Em entrevista à imprensa na tarde deste domingo, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, reiterou informações sobre os presos e afirmou que a conclusão das investigações e das prisões é "um triunfo expressivo do Estado brasileiro contra a criminalidade organizada".
Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e uma destacada ativista social em defesa das minorias, foi assassinada a tiros na noite de 14 de março de 2018 ao sair de uma reunião, enquanto circulava em um carro no centro do Rio de Janeiro, atingida por tiros de outro veículo que emparelhou com o seu.
Marielle, então com 38 anos, morreu na hora, assim como seu motorista, Anderson Gomes, enquanto uma assessora da conselheira, que também estava no carro, ficou ferida levemente e, por segurança, teve de sair do Brasil por alguns meses.
O crime chocou o Brasil e chamou a atenção da imprensa internacional. As primeiras investigações deixaram claro que tinha sido obra de profissionais, já que o atirador tinha uma destreza e uma pontaria fora do comum. As câmeras da rua, no centro do Rio, não funcionaram naquela noite.
Dois dias antes de se completar um ano do assassinato, a polícia prendeu dois ex-policiais, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de serem respectivamente o autor dos disparos e o motorista do veículo que seguia o carro de Marielle.
Desde então, faltava saber quem eram os mandantes do crime e o motivo. O caso ficou praticamente paralisado durante o governo de Jair Bolsonaro (2018-2022), mas ao tomar posse em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nomeou a irmã de Marielle, Anielle Franco, como ministra da Igualdade Racial, prometeu esclarecer o crime.
Por sua vez, o ex -ministro de Justiça Flávio Dino, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, confirmou essa promessa ao tomar posse em 2 de janeiro de 2023: "Afirmei à ministra Anielle e a sua mãe que é uma questão de honra que o Estado brasileiro faça todos os esforços possíveis, e a Polícia Federal o fará, para que este crime seja solucionado e saibamos quem matou Marielle e quem mandou matar Marielle".
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, comemorou, por meio de mensagem em rede social a prisão dos mandantes: "Só Deus sabe o quanto sonhamos com esse dia! Hoje é mais um grande passo para conseguirmos as respostas que tanto nos perguntamos nos últimos anos: quem mandou matar a Mari e por quê? Agradeço o empenho da PF, do governo federal, do Ministério Público federal e estadual e do ministro Alexandre de Moraes. Estamos mais perto da Justiça! Grande dia!", afirmou.
A maior surpresa da operação deste domingo foi a prisão de Rivaldo Barbosa, delegado que tinha assumido o cargo de chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro um dia antes do assassinato de Marielle e que, segundo a Polícia Federal, foi responsável por "planejar meticulosamente o crime", tendo recebido dinheiro para atrapalhar as investigações e garantir a impunidade dos mandantes.