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UE não deve rejeitar acordo económico vantajoso para todos

Fonte: Diário do Povo Online    27.11.2023 13h14

Por Tom Fowdy

Fontes de Bruxelas afirmam que os atlantistas obstinados da Comissão Europeia – os que apoiam uma cooperação estreita entre a Europa e a América do Norte – alertam para o que é descrito como “práticas económicas da China”. Isto levou alguns meios de comunicação social a especular sobre uma potencial guerra comercial com a China, especialmente no domínio das baterias e dos veículos elétricos, entre exigências para que a China abra ainda mais os seus mercados para acomodar as empresas europeias.

Contudo, se atentarmos cuidadosamente nas ações e palavras da China, tal oferta nunca esteve fora de questão. Na verdade, no final de 2020, a China e a União Europeia tinham até elaborado um acordo para conseguir exatamente isso, que ficou conhecido como Acordo Abrangente sobre Investimento.

Parece, todavia, que a UE desistiu de discutir de tal acordo e, em vez disso, está agora decidida a apresentar ameaças de descontentamento à China, a fim de tentar forçar termos unilaterais.

Há poucas garantias de que tal abordagem de confronto funcione, uma vez que a UE nunca foi capaz de exibir autonomia como ator independente na política externa.

A UE deveria voltar à mesa e procurar uma cooperação vantajosa para todos com Beijing, algo que é do interesse de ambas as partes.

O Acordo Abrangente sobre Investimento foi debatido entre representantes europeus e chineses ao longo de quase uma década. O acordo foi concebido especialmente para melhorar o acesso da Europa ao mercado chinês numa vasta gama de sectores e, em troca, garantir o acesso continuado da China aos mercados europeus, incluindo uma participação na sua indústria de energias renováveis.

O acordo atingiu o seu clímax em 2020, numa altura em que a administração do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impulsionava uma política dramaticamente hostil em relação a Beijing, e foi selado, "em princípio", no último dia daquele ano. No entanto, a medida provocou indignação entre a "elite transatlântica", grupos de reflexão e jornalistas, que acusaram a Europa de vender sua lealdade aos EUA, ao forjar tal acordo com a China.

Não foi surpresa nenhuma que a administração do presidente dos EUA, Joe Biden, tenha tentado minar o acordo o mais rapidamente possível ao assumir o cargo, apenas um mês depois. Para o fazer, intensificou dramaticamente a propaganda anti-China e exibiu o “transatlantismo” ao exigir um esforço coordenado para sanções sobre a questão de Xinjiang. A UE, na sua insensatez, juntou-se ao esforço e posteriormente implementou medidas contra a China.

Os membros anti-China do Parlamento Europeu recusaram-se a ratificar o Acordo Global sobre Investimento e, embora este fosse ainda mencionado como um desejo político dos líderes europeus, a Comissão Europeia, liderada pela agressiva Ursula von der Leyen, que segue de perto a linha dos EUA, efetivamente desistiu completamente.

Em vez de defender este acordo vantajoso para todos, von der Leyen começou a se referir à alegada “redução de riscos” e a apelar à diversificação da relação comercial da Europa com a China. Apesar disso, políticos como ela continuaram a exigir mais acesso ao mercado chinês e a criticar as chamadas práticas "injustas", mas não no contexto da procura de um acordo vantajoso para todos, como o Acordo Abrangente sobre Investimento. Na prática, exigiram concessões, invocando ao mesmo tempo o direito de excluir a China de certos mercados europeus. Esta lógica é absurda e contrária a uma cooperação equilibrada e comedida.

Von der Leyen tem sido amplamente criticada por estar em dívida com os EUA e por seguir rapidamente a sua linha em todas as questões, o que prejudicou a capacidade da Europa de operar de forma autónoma.

Qualquer guerra comercial europeia com a China seria desastrosa. As escolhas de política externa que a UE fez ao seguir os passos dos EUA deixaram-na com fontes de energia dispendiosas, elevados custos de produção e um processo de “desindustrialização” que tem se traduzido em um ganho líquido para os EUA. Os objetivos da UE em matéria de energias renováveis, em particular, dependem fortemente da capacidade de produção e das cadeias de abastecimento bem estabelecidas da China, que a China não possui e certamente não está em posição de replicar.

A capitulação da Europa aos esforços liderados pelos EUA no Acordo Global sobre Investimento foi um golpe decisivo nos seus interesses coletivos, e a ideia de que o confronto pode substituir a cooperação é profundamente equivocada.

A China e a UE constituem os dois maiores polos comerciais do mundo. A expansão do acesso mútuo ao mercado seria um resultado desejável e benéfico, mas deveria ser alcançado sem recorrer a confrontos de motivação geopolítica ou a capitulações transatlânticas.

Nota: o autor é um analista político e de relações internacionais britânico.

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