Por Mauro Marques e Zhang Rong
O Fórum Cinturão e Rota para Cooperação Internacional teve lugar em Beijing nos dias 17 e 18 de outubro. Fernanda Ilhéu, economista, docente universitária e presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda, sediada em Portugal, participou no evento e concedeu uma entrevista ao Diário do Povo Online.
Começando por fazer um balanço positivo da sua participação no evento, Fernanda Ilhéu afirmou que a iniciativa chinesa permite obter uma "imagem mais global" dos acontecimentos a ter lugar no atualmente e expressou o desejo de que a iniciativa mantenha "uma estratégia de desenvolvimento sustentável" que crie "confiança nos diversos países para continuarem a trabalhar em conjunto".
A Associação Amigos da Rota da Seda, instituição a que preside, é um think tank que, explica, analisa a cooperação Portugal-China e estuda possibilidade de desenvolver essa cooperação no contexto do memorando de entendimento assinado entre os dois países aquando da visita de Xi Jinping a Portugal em 2018. "Fazemos permanentemente conferências, estudos, almoços de networking, várias iniciativas que divulgam o que está a acontecer e analisam o que pode ser feito", expande.
"Existe uma vontade de cooperar, tem existido nos últimos anos bastante investimento da China em Portugal, nós esperamos que continue", afirma.
Essa disponibilidade, elabora, existe no setor empresarial e governamental. "Por exemplo, durante a Covid houve uma boa cooperação entre o governo português e chinês, primeiro na ajuda à China e depois na ajuda da China a Portugal".
No setor do "ensino da língua portuguesa, existem cerca de 60 universidades na China com estudos de português, existe uma boa colaboração a nível das trocas culturais. Também ao nível do turismo começamos agora a ver outra vez o turismo chinês a chegar a Portugal. Os investimentos da China em Portugal têm sucesso, portanto, estou a falar da participação de empresas chinesas no capital de empresas portuguesas".
Fernanda Ilhéu, presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda, sediada em Portugal
"Essas empresas portuguesas que têm essas parcerias com a China estão satisfeitas com esses parceiros e têm fortalecido as suas empresas, têm expandido, têm criado dimensão e têm expandido a sua atividade internacional. Nesses setores do investimento destacamos a energia, a saúde, a parte financeira, a parte da construção, portanto, tem variado", prossegue.
No entanto, a entrevistada deixa a ressalva de que "existe um aspeto que não tem tido muito sucesso, que é o aspeto comercial".
"A nossa balança de pagamentos está muito deficitária e existem muitos produtos que nós poderíamos vender à China se tivéssemos licenças de importação do lado chinês. Os produtos, muitas vezes, têm clientes, mas não podem entrar na China porque não têm certificado, não têm licença. Mas era importante que fosse desbloqueado, são problemas burocráticos, que por vezes levam muitos anos e nós não compreendemos porque é que estão tanto tempo parados", adverte.
Fernanda Ilhéu conclui as suas declarações destacando o potencial da cooperação trilateral entre Portugal, a China e os países de língua portuguesa.
"Penso que poderia haver uma maior colaboração trilateral, e penso que deveria haver maior trabalho do governo português, do governo chinês, das empresas portuguesas e das empresas chinesas, no sentido de, em conjunto, encontrarem modelos de negócio e de desenvolvimento em colaboração com esses países de língua portuguesa, nomeadamente com os países africanos de língua portuguesa", conclui.