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Qual será o rumo da economia mundial no futuro? Entrevista com Lin Jianhai, ex-Secretário-Geral do FMI

Fonte: Diário do Povo Online    23.11.2022 14h21

Em 2022, a economia global enfrenta vários desafios, o crescimento econômico caiu drasticamente e as incertezas se intensificaram. Como irá a economia global se desenvolver no futuro? Recentemente, o Diário do Povo Online entrevistou Lin Jianhai, ex-secretário-geral do FMI.

Diário do Povo Online: A previsão recente do FMI revela que a economia global cresceu 6% em 2021, este ano cairá para 3,2% e no próximo ano será de 2,7%. Por que o FMI baixou sua previsão?

Lin Jianhai: As razões para a revisão de queda do crescimento econômico global incluem o impacto negativo contínuo da pandemia, danos às cadeias de suprimentos globais, aumento dos preços de energia e alimentos, políticas de contração adotadas pelos bancos centrais nas principais economias desenvolvidas e o impacto do conflito Rússia-Ucrânia. O FMI acredita que o pior momento da economia global ainda está por vir e que o ano que vem pode ser ainda mais difícil.

O FMI prevê que o declínio no crescimento econômico global em 2023 seja generalizado e as economias que representam um terço da economia global podem sofrer uma recessão neste e no próximo ano.

A taxa de inflação continua alta. Desde a segunda metade do ano passado, nos Estados Unidos e em outras economias desenvolvidas, o nível de preços em geral subiu rapidamente, superando em larga medida as previsões de políticos, economistas e instituições financeiras internacionais, incluindo o FMI. Em muitas economias avançadas, a inflação está se aproximando ou ultrapassando os 10%, o nível mais alto das últimas décadas.

Muitos mercados emergentes e países em desenvolvimento estão enfrentando sérias dificuldades. As mudanças drásticas na economia global trouxeram impactos negativos sobre esses países de várias formas, incluindo a desaceleração do crescimento econômico global, que reduziu a demanda por exportações desses países, o aumento das taxas de juros nas economias avançadas e o aperto nos mercados financeiros globais, que aumentarão os custos de financiamento, etc. As recentes dificuldades econômicas experimentadas por vários países em desenvolvimento são um bom exemplo.

Diário do Povo Online: Quais serão os principais desafios econômicos que a economia global enfrentará no futuro?

Lin Jianhai: Em primeiro lugar, controlar e reduzir a inflação é uma das principais prioridades das economias avançadas. O FMI acredita que os bancos centrais das principais economias desenvolvidas devem continuar a promover políticas de contração monetária e esperam verificar resultados no próximo ano. Atualmente, a taxa dos fundos da Reserva Federal é de 3,75-4,0%. Os mercados acreditam que até meados do próximo ano, a taxa dos fundos federais terá que subir acima de 5% até que a taxa de inflação possa ser realmente contida.

Recentemente, há também opiniões de que, enquanto os bancos centrais de outras economias desenvolvidas estão elevando as taxas de juros, se a Reserva Federal buscar um aperto monetário excessivo, isso poderá levar a uma recessão econômica desnecessária. A política monetária encontra-se assim num dilema entre conter a inflação e evitar uma recessão excessiva.

Em segundo lugar, para os mercados emergentes e países em desenvolvimento, lidar com o baixo crescimento, os altos preços das commodities e a dívida elevada são as três questões mais prementes atualmente. Especialmente no que diz respeito à dívida, o aumento substancial e a valorização das taxas de juros do dólar americano neste ano agravaram ainda mais as dívidas desses países. Assim que a situação do mercado financeiro global seja revertida, esses países poderão experienciar fugas de capital em grande escala, causando mais pressão de financiamento.

A médio e longo prazo, muitas economias enfrentam ainda uma estagnação de longo prazo no crescimento econômico, fraco crescimento da produtividade do trabalho, declínio da população ativa e pressão das mudanças climáticas. Enfrentar esses desafios requer a aceleração da inovação econômica e reformas estruturais.

A nível global, as vozes da "desglobalização" continuam a se insurgir, o que trouxe grandes dificuldades e incertezas ao desenvolvimento e cooperação econômica global. Desde a década de 1980, a globalização econômica trouxe benefícios tangíveis para todas as economias e, para a grande maioria das pessoas, trouxe a renovação de velhas e novas indústrias. A ampla disseminação de conhecimento, tecnologia e informação, promoveu o vigoroso desenvolvimento do comércio internacional e atividades financeiras que melhoraram os padrões de vida das pessoas.

A intensificação dos riscos geopolíticos nos últimos anos, especialmente a série de sanções econômicas adotadas no conflito Rússia-Ucrânia, incluindo o uso de meios de pagamento internacionais para sanções e o congelamento das reservas cambiais de bancos centrais, fez com que a "fragmentação" da economia global se tornasse um fenômeno cada vez mais grave. Nos próximos anos, o "agrupamento" e a "regionalização" económicas podem continuar a intensificar-se, lançando uma sombra sobre a cooperação e o desenvolvimento da economia global.

Enfrentar as mudanças climáticas e promover a transição verde é tanto um desafio quanto uma oportunidade. Para atingir a meta de limitar o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2 graus Celsius, todos os países precisarão reduzir significativamente suas emissões de gases de efeito estufa. Ao mesmo tempo, a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias digitais globais, trouxe amplas perspetivas para o desenvolvimento futuro da economia global, mas também novos riscos e desafios para a estabilidade e supervisão financeiras.

A experiência passada nos diz que a cooperação internacional é a única e mais eficaz forma de superar a crise econômica. Os desafios globais exigem respostas globais. Os desafios ambientais internacionais que enfrentamos hoje superam em muito as crises econômicas e financeiras que surgiram nas últimas décadas, por isso é ainda mais importante fortalecer o intercâmbio e a comunicação na comunidade internacional, incluindo esforços oficiais e não governamentais. A construção de uma economia global estável, mais resiliente e inclusiva exige esforços conjuntos de todos os países.

Diário do Povo Online: Perante este cenário global, como deve a China atuar?

Lin Jianhai: No ambiente global de incertezas crescentes, o desenvolvimento econômico da China requer "qualidade" e "quantidade", ambas indispensáveis. Esta é a chave para alcançar um desenvolvimento sustentável e entrar gradualmente nas fileiras dos países de alta renda. Com base na experiência e nas lições do mundo e no desenvolvimento econômico da China, cinco aspectos merecem atenção:

Em primeiro, manter um ambiente macroeconômico estável. Esta é a premissa para um desenvolvimento contínuo de alta qualidade.

Em segundo lugar, devemos mudar a força motriz do desenvolvimento e aumentar a produtividade da mão-de-obra. A chave é a mudança do crescimento do aprendizado tecnológico para a total confiança no crescimento baseado na tecnologia. Este é o núcleo do desenvolvimento sustentável de alta qualidade.

Em terceiro, devemos melhorar continuamente o sistema financeiro e promover e desenvolver ainda mais a indústria de serviços, a qual é uma ponte para o desenvolvimento de alta qualidade.

Em quarto lugar, devemos aderir a um alto nível de abertura e intercâmbio com o mundo, incluindo setores como comércio, finanças, investimentos, intercâmbios culturais e educacionais, etc., bem como uma participação ativa nos assuntos internacionais e na tomada de decisões. Esta é uma condição necessária para um desenvolvimento sustentado de alta qualidade.

Quinto, devemos continuar a promover o crescimento inclusivo e verde e melhorar o bem-estar das pessoas. Este é o objetivo final do desenvolvimento de alta qualidade.

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