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Fósseis de peixes reescrevem a história evolutiva

Fonte: Diário do Povo Online    30.09.2022 09h56

Paleólogos chineses descobriram dois depósitos de fósseis no município de Chongqing e na província de Guizhou, no sudoeste, cujos estratos remontam ao Período Siluriano, que começou há cerca de 440 milhões de anos. Os dois locais renderam descobertas cruciais que podem reescrever a história evolutiva de como os humanos evoluíram dos peixes.

De acordo com quatro artigos publicados na revista Nature na quarta-feira (28), pesquisadores chineses relataram encontrar fósseis de peixes que forneceram o "elo perdido" sobre a origem da mandíbula, uma característica chave que deu origem a 99,8% de todas as espécies de vertebrados que vivem na Terra hoje, de baleias gigantes a humanos.

É a primeira vez que a China publica tantos estudos de uma equipe de pesquisa em uma única edição da prestigiosa revista, o que é uma prova da importância das descobertas e do reconhecimento global da China como uma potência em paleontologia, afirmaram os especialistas.

Deng Tao, diretor do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia da Academia Chinesa de Ciências, disse que os recentes avanços representam a contribuição original da China para as ciências básicas em relação à evolução.

Deng disse que o apoio da China à arqueologia e à paleoantropologia é uma das principais razões para as recentes descobertas do país. Ter uma riqueza de espécimes fósseis únicos e bem preservados e os instrumentos científicos avançados para estudá-los, bem como extensas colaborações internacionais também são benéficos, acrescentou.

Zhu Min, pesquisador do instituto que liderou os estudos, disse que as descobertas atraíram um grande interesse da editora e da comunidade científica internacional porque a mandíbula é uma inovação revolucionária para os vertebrados.

“Isso permite que o animal morda e consuma comida, em vez de raspar e canalizar nutrientes para seus corpos, como os peixes-bruxa e as lampreias, as únicas linhagens sobreviventes de peixes sem mandíbula”, disse ele.

O surgimento da mandíbula tem sido um mistério, já que a maioria dos fósseis de vertebrados com mandíbulas encontrados datam do início do período Devoniano, cerca de 419 milhões de anos atrás. Os cientistas, no entanto, levantaram a hipótese de que a origem dos vertebrados com mandíbulas deve ter ocorrido cerca de 450 milhões de anos atrás ou até antes.

“Portanto, houve uma enorme lacuna de 30 milhões de anos em nosso registro paleontológico que não foi preenchida por décadas até agora”, disse Zhu.

As últimas descobertas realizadas pela equipe de Zhu apresentaram um conjunto de cinco fósseis de peixes excepcionalmente bem preservados do início do período Siluriano, que continham três peixes de corpo inteiro que ajudaram os cientistas a elaborar um quadro evolutivo mais preciso da origem da mandíbula.

Em geral, esses fósseis mostraram que os peixes com mandíbulas já estavam prosperando nos oceanos antigos há pelo menos 440 milhões de anos. No final do período Siluriano, peixes com mandíbulas maiores e mais diversos evoluíram e começaram a se espalhar pelo mundo, abrindo caminho para alguns peixes eventualmente irem para a terra e evoluir para outros animais.

"Esses fósseis fornecem uma oportunidade sem precedentes de espiar o 'amanhecer dos peixes' e ajudar os cientistas a rastrear muitas estruturas do corpo humano de volta a esses peixes antigos, preenchendo assim algumas lacunas importantes na história evolutiva de como os peixes evoluíram para humanos", disse Zhu.

O conjunto de fósseis incluía um placoderme de 3 centímetros de comprimento, um peixe pré-histórico blindado que foi o primeiro vertebrado com mandíbula conhecido chamado Xiushanosteus mirabilis. Este fóssil lançou luz sobre a evolução do crânio de vertebrados com mandíbulas.

Outro fóssil era de um peixe parecido com um tubarão que tem um esqueleto composto principalmente de cartilagem chamado Shenacanthus vermiformis. Ao contrário de outras espécies de peixes cartilaginosos, como tubarões e raias, este peixe antigo possuia placas de armadura mais comumente associadas a placodermes, o que revela uma diversificação até então desconhecida.

Em outro artigo, cientistas descreveram as características de um tipo de galeaspida chamado Tujiaaspis vividus, uma espécie de peixe blindado sem mandíbula conhecido apenas na China e no norte do Vietnã.

Esse espécime fóssil tinha cerca de 436 milhões de anos e mostrava a característica primitiva de barbatanas pareadas antes de se separarem em barbatanas peitorais e pélvicas, as precursoras que mais tarde se tornaram nossos braços e pernas.

Outros estudos descreveram o fóssil de um peixe cartilaginoso chamado Fanjingshania renovate, e os dentes fósseis de um parente de tubarão até então desconhecido chamado Qianodus duplicis. Ambos datam de cerca de 439 milhões de anos atrás.

O fóssil de Fanjingshania renovate forneceu evidências que apoiam a teoria de que os vertebrados com mandíbulas testemunharam o aumento da diversidade taxonômica durante o início do período Siluriano. O espécime de dentes era o mais antigo de seu tipo de vertebrados com mandíbula até hoje.

Em um comentário sobre os estudos, John Long, ex-presidente da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados, disse: "É realmente um conjunto impressionante e revolucionário de descobertas de fósseis”.

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