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Lista de propostas da China pode ajudar a reparar laços com os EUA

Fonte: Diário do Povo Online    11.07.2022 09h35

Para ajudar a reparar seus laços desgastados com os Estados Unidos, a China demonstrou pragmatismo, visão e sinceridade ao apresentar uma conjunto de propostas – incluindo quatro listas destinadas aos EUA – durante uma reunião importante no sábado, segundo analistas.

Uma vez que ambos os lados estão trabalhando por algo mais do que "intercâmbios de alto nível", Washington deve parar de adiar decisões tangíveis, corrigir os danos que trouxe às relações e responder de boa fé às novas propostas de Beijing, disseram.

Depois de participar da Reunião de Ministros das Relações Exteriores do G20 em Bali, Indonésia, o Conselheiro de Estado e Ministro das Relações Exteriores Wang Yi e o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se reuniram no sábado durante cinco horas.

A tensão nas relações China-EUA aumentou nos últimos meses, quando Washington irritou Beijing em várias questões críticas, como o Estreito de Taiwan, sua política hostil à China e ataques contínuos aos assuntos internos da China.

Em sua terceira reunião presencial desde o ano passado, Wang e Blinken se envolveram em uma "comunicação abrangente, profunda, sincera e longa" sobre os laços China-EUA, bem como questões internacionais e regionais de interesse mútuo, disse o Ministério das Relações Exteriores da China em um comunicado no sábado.

Beijing ofereceu também quatro listas aos EUA, pedindo a Washington que corrigisse a política errônea da China e suas palavras e ações; esclarecesse questões específicas de suas preocupações face à China; especificasse a legislação relacionada à China que aprova. A parte chinesa apresentou oito áreas para cooperação bidirecional.

"A lista de oito áreas de cooperação e as três primeiras listas ajudam a delinear a abordagem ideal para as relações – corrigindo erros e aprofundando a colaboração", disse Su Xiaohui, vice-diretora do Departamento de Estudos Americanos do Instituto de Estudos Internacionais da China.

Desde que o Congresso dos EUA aprovou um grande número de projetos de lei, sancionando a China em temas como Xinjiang, observou Su, a terceira lista deixou claro que tal legislação do Congresso dos EUA está sabotando as relações bilaterais.

"A explicação do governo dos EUA de que não pode frustrar as decisões do Congresso não deve ser uma desculpa para (os EUA) pressionar a China e prejudicar as relações", asseverou.

Vários especialistas afirmaram que as quatro listas os lembram de outras duas listas de afazeres que Beijing propôs no ano passado, durante a visita da vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, à China sobre os "erros dos EUA que devem remediar" e "os principais casos específicos com os quais a China tem preocupações".

"As quatro listas incluem o forte desejo da China de que os EUA revoguem os erros cometidos pelo governo anterior e cumpram os compromissos assumidos pelo governo atual", disse Diao Daming, professor associado de estudos dos EUA na Universidade Renmin da China, em Beijing.

"A quarta lista de cooperação mostra mais uma vez o pragmatismo da China e o desejo sincero de avançar na colaboração, à qual Washington deve responder com seriedade com ações concretas", acrescentou.

Ao elaborar a última estratégia de Washington para a China em maio, Blinken prometeu "moldar o ambiente estratégico em torno de Beijing".

Em contraste, o lado chinês apresentou suas ideias para uma interação benigna China-EUA na região Ásia-Pacífico durante as negociações de sábado.

"A nova visão de Beijing para interações benignas na Ásia-Pacífico manifesta seu forte sentido de dever e prontidão para moldar e navegar ativamente pela ordem da região, traçando um forte contraste com a 'Estratégia do Indo-Pacífico' de confronto e competição dos principais países defendida por Washington", disse Diao.

"O pensamento estratégico da China transcendeu a obsessão dos EUA com a competição e atende efetivamente aos interesses da região e do mundo inteiro", acrescentou.

Antes e durante a reunião no sábado, as autoridades dos EUA enfatizaram a necessidade de instalar "anti-corpos" para as relações com a China. As autoridades chinesas criticaram publicamente os EUA por não cumprirem seus compromissos de não apoiar a independência de Taiwan e não tentarem conter a China.

Em resposta, o conselheiro de Estado Wang deixou claro que o meio mais confiável de proteger as relações devem ser os três comunicados conjuntos China-EUA que consagram o princípio de uma só China.

Abordando a questão de Taiwan, Wang pediu aos EUA "que não cometam um erro esmagador que enterre a paz no Estreito de Taiwan".

"Ao destacar os três comunicados, Beijing envia um sinal claro de que os EUA não devem exortar a China a manter a calma enquanto os EUA fazem provocações e incrementam problemas no Estreito de Taiwan", disse Su, estudioso do Instituto de Estudos Internacionais da China.

Durante as conversações, Blinken disse que os EUA não procuram travar uma nova Guerra Fria contra a China, não procuram mudar os sistemas chineses, não desafiam a posição dominante do Partido Comunista da China, não procuram conter a China, não apoiam a "independência de Taiwan" e não procuram mudar o status quo no Estreito de Taiwan.

Os EUA estão comprometidos em gerenciar e controlar os fatores de risco nos laços bilaterais e estão abertos à cooperação com a China, disse ele.

Wang alertou que o relacionamento ainda não emergiu da difícil situação criada pelo governo anterior dos EUA e seus riscos futuros de seguir um caminho errado.

A causa raiz é a perceção problemática dos EUA sobre a China, cuja política para a China entrará em um impasse se a fobia contra a China não for sanada, disse ele.

Wang propôs que os dois lados estabeleçam canais para implementar o consenso alcançado pelos chefes de Estado dos dois países e explorem e estabeleçam diretrizes para a ação de ambos os lados.

Na reunião, Wang e Blinken concordaram em criar melhores condições para que o pessoal diplomático e consular de ambas as partes desempenhe suas funções e concordaram em retomar os intercâmbios e consultas sobre questões interpessoais.

Eles concordaram ainda em fortalecer a cooperação em mudanças climáticas e saúde pública e abordaram a questão da Ucrânia e a situação na Península Coreana.

"A reunião de sábado abre caminho para a Cúpula do G20 no final deste ano, onde os líderes devem abordar problemas globais agudos, como a inflação e crise alimentar", disse Wang Yiwei, professor da Escola de Estudos Internacionais e diretor de Instituto de Assuntos Internacionais da Universidade Renmin da China.

"Como a relação China-EUA está sofrendo uma 'febre alta', muitos outros países esperam uma diminuição das tensões, pois sem os dois países, algumas questões importantes com impacto global não poderão ser resolvidas", disse o professor Wang.

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