Reconectando o Ocidente e Oriente, desta vez em formato virtual

Fonte: Diário do Povo Online    11.05.2021 15h54

Por *Pedro Sobral

O Yenching Global Symposium foi obrigado a reinventar-se este ano. Este evento anual, que tem lugar na prestigiosa Academia Yenching da Universidade de Pequim e reúne jovens académicos, empreendedores e profissionais de todo o mundo para discutir questões da atualidade e procurar consensos, viu a edição do ano passado ser cancelada devido ao impacto da pandemia. Este ano, graças aos esforços de uma competente equipa organizadora, o evento teve lugar online, via Zoom, entre os passados dias 16 e 18 de Abril. O simpósio, que tem por missão estimular o debate, construir laços de camaradagem e criar soluções para questões atuais, reuniu 155 representantes de 65 países, e contou com a presença de mais de 25 convidados e palestrantes, reputados especialistas nas suas diversas áreas de atividade.

Este ano, tive a oportunidade de me contar entre os representantes selecionados e, pese embora o fato de a pandemia me ter privado da oportunidade de visitar pessoalmente a Universidade de Pequim, de representar Portugal nas discussões. Ao longo dos três dias em que se desenrolou o evento, fui assistindo ao modo como os líderes de amanhã percecionam o estado atual do mundo e o papel da China nele.

O tema da edição de 2021 do Yenching Global Symposium, “Renovação Compartilhada: Reconectando o Leste com o Oeste” (“Shared Renewal: Recoupling East with West”), reflete as preocupações da China com os desafios e tensões que têm vindo a emergir em anos recentes e que foram discutidos durante a sessão de abertura pelo vice-ministro do Ministério das Relações Exteriores He Yafei e pelo ex-ministro indonésio Marty Natalegawa. Para os dois intervenientes, estamos perante a necessidade de remodelar a arquitetura de governança global, de modo a fazer frente a problemas que já não respeitam limites locais, nacionais e mesmo continentais.

O programa do evento incluiu palestras sobre temáticas como Inteligência Artificial e 5G, a nova arquitetura de governança global, cooperação entre países em desenvolvimento, educação e comércio num mundo pós-COVID-19, assim como a ascensão da China enquanto potência responsável. Nas palavras de um colega representante, de nacionalidade australiana, contactar com a perspetiva chinesa relativamente a questões globais é cada vez mais importante: “Os chineses compreendem-nos e à nossa mundividência muito melhor do que nós compreendemos a deles. Em alturas como esta, com tudo aquilo que se passa pelo mundo, ouvir as perspetivas dos líderes chineses relativamente a questões críticas como as alterações climáticas, a relação da humanidade com a tecnologia, e a governança global foi não só refrescante como valioso para a criação de compreensão mútua, numa altura em que esta é mais necessária que nunca para fazer face a desafios comuns.”

No início e no final de cada comunicação, foi pedido aos participantes que preenchessem pequenos inquéritos, por forma a auscultar a sua opinião sobre as diversas temáticas abordadas. De modo geral, os jovens participantes consideram “urgente” uma reforma da OMC e afirmam ser “possível” a cooperação entre ocidente e oriente, muito embora não se considerem diretamente impactados pela conflito comercial entre os Estados Unidos e a China. Relativamente à cooperação da China com os países em desenvolvimento, os respondentes mostraram-se “relativamente otimistas” e confiam que a melhor forma de avançar tal cooperação é “através dos respetivos governos e ministérios da economia” dos países envolvidos. Os representantes afirmaram unanimemente a sua crença no fortalecimento da cooperação internacional em matéria climática e defendem a “criação de um mecanismo de cooperação com a máxima brevidade possível”.

Durante o evento, houve também espaço para uma visita, ainda que virtual, ao Jingyuan (Jardim da Serenidade) berço da Academia Yenching e lugar que apresenta uma mescla de influências na sua arquitetura e uma comunhão de culturas na sua história. Antigas fotografias datadas dos anos 1940 mostravam-nos estudantes ocidentais e orientais comendo e conversando, numa atmosfera de harmonia e de partilha de perspetivas. Não fosse a pandemia, quiçá fosse esse o ambiente que nos esperaria nos corredores e jardins do Jingyuan.

A ambição do evento em estimular a aprendizagem e a criação de soluções para questões da atualidade teve o seu auge na organização de uma simulação da última cimeira dos G20, que teve lugar em novembro do ano transato na Arábia Saudita. Durante a simulação, a partilha de vacinas com os países mais desfavorecidos e a criação de mecanismos mais igualitários no combate a esta e a futuras pandemias estiveram no topo das preocupações dos jovens representantes, que revelaram assim a sua solidariedade global e a sua oposição ao unilateralismo e ao protecionismo.

Com o mundo mergulhado ainda na crise provocada pelo novo coronavírus, novas questões vêm juntar-se às já existentes. Que lições podemos retirar desta pandemia? O que podemos fazer para aumentar a resiliência global face a futuras catástrofes? Qual o caminho para a recuperação? Como construir um futuro mais seguro e sustentável? Estas questões pairaram sobre as discussões do simpósio e pautam a atuação dos profissionais e líderes do futuro. Enquanto estes persistirem na busca das respostas, reconectando ocidente e oriente, talvez um mundo pós-COVID mais solidário, pacífico e justo venha a ser mais do que uma esperança.

*O autor é mestre em Estudos Interculturais pela Universidade do Minho 

(Web editor: Renato Lu, 符园园)

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