De acordo com o mais recente relatório lançado pelo Ministério da Saúde do Brasil, no dia 27 de maio, o Brasil confirmou mais de 410,000 casos do novo coronavírus, estando em segundo lugar mundial, a seguir aos EUA. O número de mortes no país tem vindo a crescer, especialmente nos dois últimos dias em que foi quebrada a barreira das 1000 mortes. Os especialistas creem que a falta de coordenação e recursos médicos insuficientes são duas das principais causas que fazem do Brasil o novo epicentro da pandemia.
Depois do primeiro caso de coronavírus ter sido detetado no Brasil, no final de fevereiro, o país não tomou fortes medidas de controlo e prevenção, como nos países vizinhos, como a Argentina e o Uruguai, que registraram o primeiro caso mais tarde. Devido às importações do exterior, os pacientes não foram rastreados a tempo, sendo que a melhor janela de oportunidade para controlar a epidemia passou.
Foi apenas a meio de março que as duas maiores cidades do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, detetaram transmissões comunitárias. Após vários membros do governo terem sido diagnosticados após uma visita aos EUA, a classe política começou a prestar atenção, demonstrando alguma hesitação entre a saúde pública e a economia do país.
Embora o governo federal tenha declarado o estado de calamidade pública a 20 de março, as fronteiras não foram encerradas até 30 de março e os apelos ao uso de máscara começaram apenas no início de abril.
As autoridades brasileiras carecem de coordenação anti-epidêmica. O país tem sido assolado por diferenças políticas entre o presidente Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro. A demissão de dois ministros da saúde e desentendimentos entre governos locais na forma de combater a epidemia tornaram os progressos da situação particularmente difíceis de atingir.
Depois da epidemia, a maioria das lojas no Brasil, exceto os supermercados, farmácias e outras indústrias necessárias foram suspensos. O governo apelou ao público para adotar conscientemente medidas de isolamento social, mas o ritmo do isolamento não foi alto em todo o lado.
De modo a proteger a economia, alguns estados e cidades, assim que começaram a registrar um decréscimo do número de novos infetados, voltaram a relaxar as medidas de contenção. Isto fez disparar novamente o número de casos, levando a um novo encerramento do comércio. A contínua operação do tráfego de longa distância, o número insuficiente de testes e a falta de hábito do uso de máscaras levou a que a epidemia se alastrasse a áreas mais remotas do país.
Em comparação com outros países na América Latina, o sistema de saúde brasileiro é bastante sólido. O Brasil dispõe de saúde pública, sendo que os seus cidadãos recebem tratamento gratuito das instituições médicas públicas. No entanto, este ano, além da epidemia do novo coronavírus, surtos de dengue e gripe ocorreram simultaneamente, causando um impacto sem precedentes no sistema de saúde do país.
A falta de equipamentos no Brasil, designadamente de ventiladores, principalmente concentrados nas grandes cidades, veio complicar o combate à doença. O Rio de Janeiro entretanto avançou com o plano de instalar 6 hospitais de campanha, mas apenas um começou a receber pacientes, sendo que os outros se encontram ainda inativos devido à falta de equipamento.
Como houve falta de capacidade para atender todos os pacientes, foi pedido a muitos deles, com sintomas leves, para permanecer em casa. A capacidade de produção de máscaras do Brasil é também ainda insuficiente. O governo apelou já ao público para confecionar máscaras artesanais, mas o seu efeito protetor é limitado.
A propagação do vírus levou já à saturação do sistema de saúde em algumas regiões brasileiras. O estado de São Paulo, a área mais atingida, tem uma taxa de ocupação de cuidados intensivos de 91%, sendo que 13 hospitais estão incapacitados de receber mais pacientes. Em São Paulo e no Rio de Janeiro foram já confirmados casos de morte em casa dos pacientes.
Os epidemiologistas brasileiros dizem que o surto se encontra ainda em fase ascendente. A capacidade limitada de deteção impede que a realidade seja devidamente apurada. Com o início do inverno no Brasil e a descida das temperaturas, é esperada um aceleração da propagação das doenças respiratórias até às comunidades mais pobres, sendo que se teme que a situação possa ficar fora de controle.