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Caso Zhang Zixin devolve à discussão pública fantasmas da China contemporânea

Fonte: Diário do Povo Online    19.07.2019 16h42

Por Mauro Marques

A internet chinesa foi novamente abalada nos últimos dias pelo caso da menina Zhang Zixin, raptada e, entretanto, encontrada sem vida pela polícia. O debate em torno da situação voltou a mediatizar alguns dos fantasmas da China contemporânea.

O caso de Zhang Zixin não difere de muitos outros na China - uma criança entregue aos cuidados dos avós, e cujos pais rumaram a outras paragens para ganhar a vida. Esta família em particular apresentava um maior grau de complexidade, pois os pais enfrentavam problemas na sua relação, vivendo separadamente em províncias distantes uma da outra (Tianjin e Dongguan).

No dia 4 de julho, um casal hospedado na casa dos avós da menina, em Chun’an, na província de Zhejiang, um homem de 43 anos e uma mulher de 46 de sobrenomes Liang e Xie, respetivamente, pediram autorização para levar Zixin a um casamento em Shanghai, solicitação que acabou por ser consentida, após insistência, com o regresso marcado para o dia 7.

Até convencerem os avós a levarem a menina, o casal agiu dentro da normalidade, jantando com os idosos e comprando presentes para Zixin. Mesmo com a desconfiança do pai, a trabalhar em Tianjin, a norte do país, Liang e Xie, após sucessivas tentativas, conseguiram convencer a avó.

O pai da criança afirmou que havia mantido contacto frequente com o casal durante esse período. No entanto, depois do dia 7, o casal ficou incontactável, pelo que a polícia foi notificada do desaparecimento da menina no dia 8.

No mesmo dia, Liang e Xie foram encontrados mortos num lago de Ningbo, no que se tratou aparentemente de um suicídio conjunto.

Estima-se que casal de raptores planejasse de longa data o suicídio, sendo que o motivo pelo qual arrastaram a criança para este desfeche é uma incógnita. Segundo a averiguação das autoridades, o casal vinha recorrendo à fraude, estratagemas e dívidas para conseguir colocar o pão na mesa.

Este, infelizmente, é mais um dos vários casos trágicos relacionados com crianças que têm surgido nos últimos tempos no país.

Casos de violência e assédio contra crianças em infantários, noticiados na esfera pública, deixaram o país em alerta vermelho.

Inicialmente, os internautas condenaram de modo veemente a atitude dos avós de Zhang Zixin, que permitiram que dois estranhos levassem a neta sem grandes entraves. Porém, os ânimos foram contidos, tendo aparecido vozes que se colocaram do lado dos idosos, observando a situação de um ponto de vista mais lato, segundo a ótica dos avós, duas pessoas humildes, de outra geração, a viver em uma província rural.

Longe vão os verdes anos dos avós de Zhang Zixin em que as migrações na China eram pouco frequentes e todos se conheciam nas inúmeras comunidades coletivistas locais do país, prévios ao arranque da reforma e abertura.

O boom da economia veio permitir uma estrondosa mudança, mas criou fenômenos polarizadores como o da menina, que tivera que assistir, impotente, à partida dos pais até outras paragens, em busca de uma vida melhor. No outro lado da moeda, existem as famílias cujos descendentes, sob o olhar atento da família, têm acesso a um percurso de crescimento de abundância material e afetiva.

Entre os vários comentários mais populares ao caso encontram-se apelos, como os do utilizador Yihuizi(乙惠子), que qualifica o episódio como “alarme público”, e que “não se pode confiar de ânimo leve em estranhos”, indicando que as crianças devem ser ensinadas desde cedo esses princípios.

Outros, como o utilizador Tuimengderen (退梦的人) exortam as autoridades para se servirem da revolução digital no país para reforçar o apoio nos cuidados a grupos desfavorecidos ou vulneráveis, criando plataformas de apoio direto para o efeito.

Para combater problemas como este, vários programas começaram a surgir com vista a promover medidas de segurança para as crianças junto das suas famílias, organizações comunitárias e escolas. Exemplo disso é a campanha de verão sobre procedimentos de segurança organizada em Hangzhou pela Sociedade Feminina Urbana da cidade.

Uma procuradoria foi também aprovada no sentido de difundir as principais ferramentas de segurança e proteção infantil, a qual prevê medidas antifraude, reforço da proteção da mulher, remoção de conteúdos nocivos online e aumento da supervisão de locais de entretenimento.

Está ainda em curso um reforço da modernização de instituições de governação rural e comunitária, outorgando a estas mais capacidades de intervir em prol das crianças em situações semelhantes a Zhang Zixin. 

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