Londres, 4 jul (Xinhua) -- Um esquema financeiro foi lançado em Londres na quinta-feira para incentivar a produção sustentável de soja no Brasil, em um novo esforço para salvar o cerrado, a área mais biodiversa do mundo e reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa ligadas ao desmatamento para a agricultura.

A RCF (Responsible Commodities Facility), inaugurada na Bolsa de Valores de Londres, planeja oferecer linhas de crédito com juros baixos aos produtores de soja e milho brasileiros que se comprometem a usar pastagens abandonadas em vez de derrubar florestas e campos nativos para a agricultura.

A RCF pretende levantar 1 bilhão de dólares americanos nos próximos quatro anos para financiar a produção de mais de 180 milhões de toneladas de soja e milho responsáveis ​​e salvar o cerrado, que é de onde ocorre a maioria do desmatamento para fins agrícolas.

Historicamente, a pecuária é uma das principais causas de conversão do cerrado em terras agrícolas. Novas tecnologias permitiram que a produção de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar se expandisse para o cerrado desde 2000, que continua em ritmo acelerado, à medida que a demanda global por soja dispara.

Se a mudança de vegetação continuar nas taxas de 2004, o ecossistema natural do cerrado poderá virtualmente desaparecer dentro das próximas três décadas, previu o World Wildlife Fund (WWF).

Uma opção para aliviar essa pressão é redirecionar a produção agrícola para terras já desmatadas de vegetação nativa e pastagens degradadas, mas os mecanismos de financiamento existentes não são suficientes para redirecionar a produção de soja para essas áreas.

"Para enfrentar os efeitos negativos da mudança climática e parar com a dramática perda de biodiversidade que testemunhamos nos últimos 30 anos, precisamos urgentemente e rapidamente mudar para a produção de alimentos e modelos de financiamento que não dependem da conversão de florestas e habitat natural", disse Bruno Pozzi, diretor do Escritório Europa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Pozzi descreveu a RCF como uma "maneira inovadora e muito necessária" para destravar o capital privado em escala para enfrentar alguns dos desafios ambientais mais marcantes do século XXI.

A RCF será financiada pela emissão de títulos verdes listados na Bolsa de Valores de Londres. A instalação é uma iniciativa da Sustainable Investment Management (SIM), uma empresa boutique de financiamento ambiental, com o apoio do governo do Reino Unido e do PNUMA.

"Essa combinação de ferramentas financeiras inovadoras, maior transparência e rastreabilidade e um esforço concentrado no cumprimento de diretrizes rígidas, tem o potencial de acelerar o crescimento de commodities responsáveis", disse Pedro Moura Costa, CEO do SIM.

Quase 18 milhões de hectares de pastagens degradadas poderiam ser usados ​​apenas para a produção de soja na região do cerrado, que é três vezes mais terra do que o setor precisará na próxima década, de acordo com o SIM.

O Brasil se comprometeu a cortar as emissões de gases do efeito estufa em 37% até 2025 e, possivelmente, em 43% até 2030 em comparação com os níveis de 2005, reduzindo o desmatamento e aumentando a participação de fontes renováveis ​​em seu mix energético, com quase 90% da redução prevista vindo do desmatamento reduzido.

As emissões ligadas ao desmatamento para a agricultura representam 51% das emissões de gases do efeito estufa no Brasil.