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Diario do Povo Online entrevista Zhang Haixia, professora demissionária do IEEE

Fonte: Diário do Povo Online    31.05.2019 16h34

Por Bai Zhenzhi, Peng Xinyu, Wang Xiaoxiao e Cui Zezhen

No dia 29 de maio foi exposto online um email do IEEE (Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos), no qual é referido que empregados da Huawei seriam proibidos de cargos de edição ou apreciação da revista desta instituição. O IEEE é uma instituição global sem fins monetários dedicada à investigação científica nas áreas da eletrônica, informática, comunicações, etc, e tem a seu cargo a publicação de revistas científicas influentes. A Huawei tem alguns funcionários em posições acadêmicas que colaboram com o IEEE.

Zhang Haixia, uma professora da Faculdade de Tecnologia e Ciências da Informação da Universidade de Pequim emitiu um comunicado no website do seu gabinete de investigação, anunciando a sua demissão do conselho editorial das revistas do IEEE.

O que pretende exprimir ao se retirar do conselho editorial do IEEE?

Zhang Haixia: Eu trabalhei com o IEEE por mais de 10 anos, tendo estado profundamente envolvido nos trabalhos desenvolvidos. Todos os cientistas que contactei são sérios e profissionais. Não acredito que tais atitudes comprometedoras possam ter acontecido.

Uma lista será composta, e essas pessoas terão de ser substituídas, não sendo possível contar de novo com a sua colaboração. Eu considero isto um insulto. Não há como contornar a realidade, é isso mesmo. É um insulto ao meu profissionalismo. Quem quer que eu convide, trata-se do meu reconhecimento à sua profissão. Se essa pessoa for capaz de aceitar a apreciação de um especialista na minha área, eu contactá-lo-ei. Se não for o caso, não o farei. Quando recorro a um especialista, é impossível ter em consideração de onde esta pessoa é, ou como ela é. Considero que o profissionalismo é suficiente. O nível acadêmico não basta. Se estas condições forem cumpridas e a pessoa estiver disponível, isso é algo positivo. Se não existir profissionalismo, então, independentemente da proveniência, a pessoa não será considerada.

Acha que a sua decisão irá influenciar outros cientistas? Ou apenas representa a sua posição?

Zhang Haixia: Apenas falo por mim. Devo reiterar esta questão – falo por mim próprio e não represento qualquer organização ou instituição. Não quero que isto afete a deliberação de outras pessoas. Pois se estiverem realizando trabalhos ou investigação científica, devem ter a capacidade de aferir as coisas de modo independente. Não devemos ser sujeitos a influências externas. Quem tomar a mesma posição que eu, deve fazê-lo de livre vontade, e não de ânimo leve. Caso contrário estaremos perante alguém não profissional. Um cientista verdadeiramente versado tem de ter pensamento independente e não se envolver em nenhuma causa de modo casual. 

Quais são as consequências negativas da intervenção política em questões acadêmicas para o desenvolvimento científico internacional?

Zhang Haixia: O meu profissionalismo é inquestionável. A ética de cada um é posta à prova, e não é estabelecida de um dia para o outro. Tal interdição viola, obviamente, os direitos e interesses de todos. Pôs em causa o meu trabalho normal. Pois, ao trabalhar no conselho editorial, quando faço uma escolha, terei de perguntar às pessoas: ‘Pertence à Huawei?’; ‘assinou algum contrato com a Huawei?’… Não estou a considerar o profissionalismo da pessoa. Começo a questionar de onde a pessoa vem, a cor da sua pele, aparência física… Isto faz algum sentido?

Quando não se tem uma avaliação objetiva, é difícil avaliar se os resultados são positivos ou negativos. Quando estamos inseridos numa plataforma deste tipo, o melhor é garantir a abertura entre continentes, entre países, entre nações, a discussão acadêmica de modo justo, imparcial, e aberto. Hoje percebemos que este sonho é, afinal, um pesadelo.

O que tem a dizer relativamente às entidades que influenciaram o IEE a avançar com esta decisão?

Zhang Haixia: Não deixem a política se intrometer. A realidade é que os acadêmicos são isso mesmo, acadêmicos, e a política é política. Ambos não combinam. O que está acontecendo é mutuamente danoso. O que eu quero é uma conduta objetiva. Não posso julgar nada objetivamente agora. Tenho que lidar com o erro subjetivo todos os dias, de observar a existência de fatores pessoais, fatores acadêmicos, fatores regionais e nacionais, e depois misturo-os com fatores ocidentais e orientais. Existe ciência nisso? É preciso filtrar tudo isso de modo parcial. Mesmo que não se tratasse da Huawei, a minha decisão seria a mesma. 

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