Por Jiang Shixue, CGTN
Passaram já 50 dias desde que Juan Guaidó se autodeclarou presidente legítimo da Venezuela. O que aconteceu neste país sul-americano, conhecido pelas suas reservas de petróleo e numerosos concursos de beleza? Estará a situação a tomar um rumo melhor? Será o confronto acirrado entre Nicolas Maduro e Juan Guaidó menos antagonístico? Será que a maioria do povo venezuelano se sente mais feliz?
A resposta a estas questões é definitivamente “Não!”.
Logicamente, é fácil de compreender que o governo, bem como a maioria da população, anseiam por mais estabilidade e menos tumulto. No entanto, Guaidó, apoiado pelos EUA, deseja o oposto, dado que do ponto de vista de Guaidó e dos EUA, mais tumulto e menos estabilidade farão com que a população acredite que as crises são criadas por Maduro. Na sua perspetiva, quanto maior o caos, menor a legitimidade do governo de Maduro.
É por esta causa que Guaidó tentou afincadamente a 23 de fevereiro levar a designada “ajuda humanitária” dos EUA até à Venezuela. A ajuda americana chegou à fronteira colombiana de Cucuta, mas a ponte de Tienditas entre a Colômbia e a Venezuela estava cerrada. As tropas venezuelanas dispararam gás lacrimogênio e barraram as multidões que tentaram fazer passar materiais americanos através da ponte.
Maduro afirmou que o povo venezuelano não necessita de ajuda externa. Com efeito, se os EUA estão verdadeiramente consternados relativamente às vidas dos venezuelanos, porque impõem sanções econômicas ao país?
Dois dias após a entrada da “ajuda humanitária” americana ter falhado, Mike Pence, o vice-presidente americano, escreveu nas redes sociais que “o tirano de Caracas dançou, enquanto os seus capangas assassinaram civis e queimaram alimentos e medicamentos que seguiam para os venezuelanos”. O Departamento de Estado dos EUA emitiu um vídeo também indicando que o Presidente Maduro havia ordenado que os camiões fossem queimados.
A oposição na Venezuela espalhou o vídeo da destruição da ajuda americana proveniente da América Latina como prova da crueldade de Maduro.
No entanto, de acordo com o New York Times, a própria oposição, ao invés dos homens do Presidente de Maduro, parecem ter incendiado as mercadorias acidentalmente.
A 23 de fevereiro, um protestante anti governo arremessou um coquetel Molotov contra a polícia venezuelana. Contudo, o pano usado para acender a arma separou-se da garrafa, voando em direção a um caminhão. Momentos depois, o caminhão estava em chamas.
Houve ainda outro revés para Guaidó e para o governo Americano. As mercadorias queimadas não continham medicamentos, antes continham máscaras e luvas.
Não restam dúvidas que, com o forte encorajamento dos EUA, Guaidó continuará a despoletar sentimentos anti-Maduro entre os venezuelanos.
Deve ser ressaltado que a usina hidrelética Simon Bolívar, na barragem Guri, deixou de funcionar a 7 de março, deixando vários locais do país na escuridão. O presidente Maduro atribuiu as culpas do apagão à “guerra elétrica anunciada e dirigida pelo imperialismo americano contra o nosso povo”.
Todavia, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, negou as acusações, declarando que “os cortes de energia e a fome resultam da incompetência do regime de Maduro”.
Guaidó afirmou, “este apagão é prova da ineficiência do usurpador”. No dia 9 de março, ele apelou aos venezuelanos para viajarem a Caracas em protesto contra o governo.
Por enquanto, ninguém pode prever como a situação venezuelana irá evoluir. Mas uma coisa é certa: o caminho para terminar a atual crise política é através da negociação política e compromisso por parte dos dois lados.
O presidente Maduro expressou repetidamente a sua disponibilidade para se sentar à mesa das negociações com a oposição de modo a virar a página em prol da nação. Ele disse alegadamente que, “acreditamos que é apenas possível encontrar soluções para os conflitos pela via do diálogo e diplomacia... não através da violência, intervenções estrangeiras, tentativas de golpe ou guerra”. Mas Guaidó recusou ofertas por parte dos presidentes do México e Uruguai para negociar com Maduro.
O presidente Maduro disse até que está pronto a se reunir com o presidente Donald Trump, quando Washington assim o pretender.
A situação atual na Venezuela não poderá perdurar para sempre. Mas quem irá rir por último? A população local terá de esperar pelo melhor e se preparar para o pior.
Nota: O autor é professor e diretor do Centro de Estudos Latino-americanos na Universidade de Shanghai.