Rio de Janeiro, 2 nov (Xinhua) -- O juiz federal Sergio Moro, que comandou as ações penais da Operação Lava Jato em Curitiba, aceitou o convite e será o futuro ministro da Justiça do governo do presidente brasileiro eleito Jair Bolsonaro.
Moro se reuniu na manhã desta quinta-feira com Bolsonaro e, após deixar a residência, divulgou nota em que afirma que se sente honrado com o convite e que pretende, como ministro, "consolidar os avanços contra o crime e a corrupção".
A reunião entre os dois e o economista Paulo Guedes, que comandará o 'superministério da Economia' durou cerca de uma hora e meia. "Após reunião pessoal na qual foram discutidas políticas para a pasta, aceitei o honrado convite. Fiz com certo pesar, pois terei que abandonar a carreira de juiz após 22 anos de magistratura", escreveu Moro.
"No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito a Constituição, a lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão. Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior."
A pasta, batizada de "superministério", deverá integrar as estruturas da Justiça, Segurança Pública (inclusive a Polícia Federal), Transparência e Controladoria-Geral da União, além do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), este último hoje ligado ao ministério da Fazenda.
Em uma entrevista em 2016 ao jornal o Estado de S. Paulo, Moro afirmou que jamais entraria para a política. "Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política."
"Acho que a política é uma atividade importante, não tem nenhum demérito, pelo contrário, existe muito mérito em quem atua na política, mas eu sou um juiz, eu estou em outra realidade, outro tipo de trabalho, outro perfil. Então, não existe esse risco", enfatizou na época.
Em sua primeira entrevista após o encontro com o juiz federal, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), disse que a reação de Moro ao convite parecia a de um "jovem universitário recebendo seu diploma".
Moro informou que deve "desde logo" se afastar de novas audiências da Lava Jato, para evitar o que chamou de "controvérsias desnecessárias".
No ano passado, Moro condenou em primeira instância o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com a confirmação em segunda instância, Lula, que tinha o dobro de votos de Bolsonaro no inicio da campanha eleitoral, teve sua candidatura à Presidência barrada pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa.
A defesa do ex-presidente viu na entrada de Moro no futuro governo "a prova definitiva de que Lula foi processado, condenado e preso sem ter cometido nenhum crime, com o claro objetivo de neutralizá-lo politicamente".