Beijing, 13 ago (Xinhua) -- A China permanecerá comprometida com a abertura de suas indústrias agrícolas apesar das tensões de comércio com os EUA, disse um funcionário chinês de alto escalão, acrescentando que tarifas terão um impacto apenas limitado sobre os mercados do país.
"Fontes diversificadas de importações da China, integradas de uma ampla variedade de mercados do exterior, garantirão que suas contramedidas contra as tarifas dos EUA tenham apenas uma influência limitada no mercado nacional", disse Han Jun, vice-diretor do escritório do grupo dirigente central para trabalho agrícola e vice-ministro da Agricultura e dos Assuntos Rurais, durante uma coletiva de imprensa na quinta-feira.
O governo trabalhará para minimizar os impactos sobre a produção industrial e a vida diária da população, disse Han.
As observações do vice-ministro foram feitas depois do agravamento de uma guerra comercial lançada pelos EUA. Entre as crescentes tarifas contra uma ampla variedade de bens comercializados em ambas as direções, a China adotou impostos extras sobre mais de 900 linhas de produtos agrícolas dos EUA, incluindo soja, grãos, algodão e carne.
"A China não quer se envolver em uma guerra comercial mas se viu forçada a implementar contramedidas necessárias em resposta às medidas dos EUA", afirmou Han, observando que as tarifas do país, adotadas depois de extensa consulta pública e uma avaliação cuidadosa de impacto, são "racionais e moderadas".
O impacto sobre a agricultura dos EUA é previsível.
"Os agricultores americanos provavelmente perderão o mercado chinês que eles trabalharam por décadas para explorar, apesar dos subsídios agrícolas no valor de até US$ 12 bilhões anunciados pela Casa Branca e Departamento da Agricultura dos EUA", disse Han.
A soja, o mais importante produto agrícola no comércio bilateral, está no fronte desta guerra comercial.
Os EUA devem exportar mais de 30 milhões de toneladas de soja para a China este ano, segundo uma previsão anterior, mas este número agora não é possível de ser materializado, pois as companhias chinesas no geral pararam de comprar essa commodity dos EUA depois que uma tarifa adicional de 25% entrou em vigor em 6 de julho.
Uma audiência pela Câmara dos Representantes dos EUA em 19 de julho refletiu as preocupações dos agricultores e grupos de agronegócios sobre o cenário de uma menor fatia de mercado na China. Depois da safra de soja começar em outubro, o setor enfrentará uma situação de agravação de preços em queda, maior pressão de exportação e um longo ciclo de exportação.
Os EUA exportam cerca da metade de sua produção anual de soja, ao redor de 100 milhões de toneladas.
Em um mercado chinês de concorrência acirrada, os produtores de soja de outros países ocuparão a fatia de mercado que pertencia aos agricultores norte-americanos, se as disputas comerciais continuarem a piorar, previu Han.
Han citou as observações do ministro brasileiro da Agricultura, Blairo Maggi, de que o país sul-americano é capaz de dobrar a área cultivada de soja.
"Muitos países têm a vontade e a habilidade de substituir a presença dos EUA no mercado agrícola chinês. Se os outros países se tornarem fornecedores confiáveis para a China, será difícil para os EUA recuperarem a posição", opinou Han.
A China é capaz de lidar com a insuficiência gerada pela queda de importações de soja dos EUA, assinalou.
Com recursos limitados de terra arável, é difícil para a China garantir o fornecimento suficiente de produtos intensivos de terra, como soja, pois o país tem que assegurar a produção de principais grãos como arroz e trigo. O país depende dos mercados mundiais para preencher sua demanda anual de 90 milhões de toneladas de soja.
A China fez preparações completas para prevenir os impactos nos preços dos alimentos domésticos, disse Han, citando medidas de resposta incluindo busca de novas fontes, redução do uso de farelo como ração animal, compra de substitutos e aumento da capacidade produtiva de soja doméstica.
Apesar das disputas comerciais, Han enfatizou que a China promoverá a abertura do setor agrícola de uma maneira ativa, firme e ordenada, com mais importações dos mercados mundiais. "É política estabelecida da China expandir ativamente as importações agrícolas."
"A principal questão enfrentada pela agricultura da China não é a escassez na produção mas o desequilíbrio estrutural. Devemos acelerar a reforma estrutural no lado da oferta na agricultura por mais reformas e maior abertura."
A China se tornou o maior importador global de produtos agrícolas e a segunda maior nação de comércio agrícola. O país é o maior comprador de soja, açúcar e algodão do mundo.
De fato, a China e os EUA são altamente complementares no comércio agrícola e uma maior cooperação na área seria benéfica para a agricultura de ambos os lados, finalizou Han.