Rio de Janeiro, 6 jun (Xinhua) -- O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) depôs nesta terça-feira perante a Justiça no caso sobre a suposta compra de votos da candidatura do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos 2016 e, embora tenha admitido que pediu ajuda aos países africanos, assegurou que não houve qualquer tipo de acordo e que desconhece qualquer tentativa de suborno por parte do projeto olímpico carioca.
Lula prestou depoimento ao juiz federal Marcelo Bretas por videoconferência desde Curitiba, onde se encontra preso desde 7 de abril passado, como testemunha de defesa do ex-governador do Rio, Sergio Cabral, que está na prisão por corrupção durante sua gestão (2007-2014) e é acusado de ter liderado um esquema de compra de votos no Comitê Olímpico Internacional (COI) para a escolha do Rio para organizar a Olimpíada.
Foi a primeira aparição de Lula desde que foi preso para cumprir uma pena de 12 anos e um mês, por suposta corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-presidente usou a mesma gravata com as cores do Brasil que tinha usado em Copenhague (Dinamarca), em 2009, no dia em que a cidade foi eleita sede olímpica.
Lula disse que participou de uma reunião com a União Africana, que representa 54 países do continente e que pediu, sem oferecer nada em troca, apoio a candidatura carioca.
"A África apoiar o Brasil era quase uma coisa natural. O Brasil era o país mais próximo da África. Eu viajei 34 vezes para África, visitei 29 países, abri 19 embaixadas na África. Isso dava aos africanos quase uma irmandade com Brasil", afirmou ele.
A promotoria brasileira denunciou que membros africanos do COI receberam propinas de um empresário próximo a Cabral, no valor de dois milhões de dólares.
"Lamento que venha uma denuncia de corrupção de compra de delegados (do COI), oito anos depois. Não sei quem é que fez a denuncia, nem quero saber. Não o conheço", disse Lula, que acrescentou: "vivemos um momento de denuncismo", em uma clara alusão às várias denúncias feitas contra ele por supostas irregularidades.
Lula também defendeu o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Athur Nuzman, que chegou a ser preso ano passado pelo caso. "Sua atitude sempre foi de muito compromisso com os Jogos Olímpicos e com o Brasil. Não vi nenhuma atitude dele que pudesse desacreditar o Brasil ou os Jogos Olímpicos", comentou
O depoimento de Lula transcorreu em um ambiente muito tranquilo e com toques de humor.
Ao longo do depoimento, Bretas evitou permitir que Lula fizesse discursos de ataque à Justiça. Logo no início do depoimento, o juiz fez o comunicado de praxe em que avisa testemunhas de que ela está obrigada a falar a verdade.
Lula rebateu: "o meu compromisso é com a verdade. Não acredito que hoje no Brasil tenha um brasileiro que anda em busca da verdade mais do que eu. Estou cansado de mentiras. Quero a verdade".
Ao término do depoimento, o magistrado prestou reverência ao ex-presidente. Além de declarar que Lula era "uma pessoa importante para o Brasil", comentou que esteve num comício dele na Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro.
"É relevante a sua história para todos nós. Para mim, inclusive, que aos 18, 17 anos estava aqui num comício na Avenida Presidente Vargas com um milhão de pessoas. Vivíamos um momento diferente no país. Estava lá, usando boné e camiseta com o seu nome", disse Bretas, em referência à eleição de 1989.
"Quando fizer um comício agora, eu vou chamar o senhor para participar", respondeu Lula, para riso dos presentes à audiência.