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Entrevista: EUA dão tiro no pé com medidas protecionistas, diz economista brasileiro

Fonte: Xinhua    05.04.2018 09h35

Por Edgardo Loguercio

Brasília, 5 abr (Xinhua) -- As tarifas recentemente impostas sobre metais importados e outras medidas protecionistas tomadas pelo presidente Donald Trump podem sair pela culatra, disse o economista brasileiro César Bergo, do Conselho Federal de Economia (Cofecon).

Longe de reforçar a indústria nacional, os Estados Unidos estão atirando no próprio pé e afetando o comércio mundial, assinalou Bergo, que também leciona na Universidade de Brasília.

No mês passado, Trump adotou tarifas elevadas de 25% e 10% sobre as importações de aço e alumínio e tarifas de até US$ 60 bilhões contra produtos chineses.

Depois, isentou alguns países dos impostos onerosos, incluindo México, Canadá e Brasil, mas muitos observadores temem que a medida venha a prejudicar o comércio e o crescimento globais.

"Se os EUA mantiverem esse conservadorismo em relação às importações, reduzirão o volume do comércio e o mundo inteiro vai acabar perdendo", afirmou o economista.

Trump parece estar cumprindo as promessas de campanha de proteger os trabalhadores nacionais através do protecionismo, "mas o que vai acontecer é que as medidas vão aumentar o custo dos produtos no mercado norte-americano", previu Bergo.

Domesticamente, as tarifas devem elevar os custos em toda a cadeia produtiva de automóveis e em eletrodomésticos, disse ele.

As relações comerciais de longo prazo dos EUA com os principais parceiros também sofrerão como resultado, continuou.

"Essa política é muito perigosa para os próprios americanos, porque acaba prejudicando o que é mais importante nos laços comerciais: a confiança", notou ele.

"Atualmente, com a globalização, isso coloca os EUA à margem, não apenas em questões de comércio. Adotaram a mesma atitude em questões do clima ao se retirar do Acordo de Paris", disse Bergo, acrescentando que "essa política externa os está isolando com atitudes que são bastante perigosas".

Como o isolacionismo vai contra a política externa tradicional dos EUA, resta saber até que ponto as propostas de Trump serão implementadas, disse Bergo.

"Historicamente, os EUA e Obama trabalharam muito na abertura e no fortalecimento de algumas parcerias. Acho que o atual governo (...) está adotando uma postura errática. O tempo mostrará que não está seguindo o caminho certo e que terá que retroceder em alguns casos."

O protecionismo de Trump parece ser claramente direcionado à China, um país que registrou forte desenvolvimento e crescimento nos últimos anos, com indústrias de siderurgia e tecnologia prósperas, disse Bergo.

"Parece que os EUA adotam uma posição contra o aço, o alumínio e os bens de alta tecnologia, que estão buscando essa meta, que é uma briga com o governo chinês."

"A China produz 830 milhões de toneladas de aço e acaba sendo um dos países mais afetados por essa política dos EUA", afirmou.

Em contraste, os EUA não produzem o suficiente para atender a própria demanda interna e precisam importar o metal.

"Acho que os EUA e a China terão que sentar e conversar. A China pode sofrer um impacto econômico negativo, mas por outro lado tem um enorme potencial de negociação, já que é a principal credora dos EUA", ressaltou o economista. 

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