Embaixador cessante de Portugal antevê futuro promissor para as relações sino-portuguesas

Fonte: Diário do Povo Online    01.12.2017 16h58

Jorge Torres-Pereira, embaixador cessante de Portugal na China, há 4 anos em funções, concedeu uma última entrevista à imprensa chinesa, na qual abordou a sua passagem pelo país asiático.

“Tenho ouvido de várias proveniências que as relações entre Portugal e a China estão no melhor momento de sempre”, começa por referir, aludindo às palavras de Zhang Dejiang, presidente da Asembleia Popular Nacional da China, recentemente de visita a Portugal, para corroborar a sua afirmação.

Tomando como ponto de partida a Parceria Global Estratégica firmada em 2005, o diplomata descreve a evolução dos indicadores da relação bilateral como “realmente brutal”. “Quer no investimento, comércio, nos contactos, na diversificação da relação, no domínio da língua, incluindo também o domínio cultural”, refere Torres-Pereira.

Com um investimento ainda tímido em Portugal no ano de 2010, “praticamente só a Huawei, e mesmo assim não muito significativo”, o “stock acumulado do investimento chinês em Portugal ronda hoje os 10,000 milhões de euros”, avança o embaixador que, em 2016, fora galardoado com o prémio de diplomata económico do ano pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa.

A China, entretanto, passou também a constar no lote dos 10 países que mais exportam para Portugal.

“Há uma maior diversificação no relacionamento entre Portugal e a China (…) Há mais ciência, há mais verde e há mais azul”, salientou, em referência à cooperação académica e científica, no âmbito das energias renováveis e na cooperação marítima.

No domínio económico, ao longo do seu mandato, sobressaem a participação de Portugal enquanto membro fundador do BAII; o pioneirismo na zona euro com dívida soberana denominada em RMB no mercado interno chinês (“panda bonds”); e a adesão ao sistema de pagamentos Unionpay, permitindo o uso de cartões da maior rede de pagamentos chinesa.

O recém-inaugurado primeiro voo direto entre a China e Portugal, outro dos momentos marcantes da passagem do embaixador por Beijing, veio injetar um novo ímpeto na atividade económica e no setor turístico.

“Antes de 2005 podíamos dizer que o número de turistas para Portugal era de 0. Neste momento já estamos na casa quase dos 250,000 turistas [anualmente], com crescimentos anuais entre os 15% e os 40%”.

No domínio cultural, a figura de Tomás Pereira, missionário português que protagonizou um papel de relevo no diálogo cultural e diplomático entre a China e a Europa no século XVII, deu o nome aos galardões atribuídos anualmente aos melhores estudantes chineses de língua portuguesa. A recuperação da pedra tumular desta individualidade, que ocupa agora um lugar de destaque nos jardins da embaixada, foi também um empreendimento-chave no mandato do diplomata.

A experiência profissional que agora chega ao fim é descrita por Jorge Torres-Pereira como “claramente, o posto de maior responsabilidade em que me vi envolvido (…) É difícil ter uma experiência profissional comparável à do embaixador em Pequim”.

Na hora da despedida, assume guardar a “frustração de não ter podido assistir à abertura de um centro cultural português na capital chinesa”. No entanto, ressalta, “já temos praticamente todos os tijolos para que isso seja possível”.

Indagado sobre as memórias mais marcantes deste mandato, o embaixador, que entretanto percorreu 18 províncias da China, referiu: o palácio de Potala; o abraço a um panda em Chengdu; a comemoração, às 2 da manhã, após a instalação da lápide de Tomás Pereira; o jantar privado com António Guterres e o Presidente Xi Jinping no Palácio do Povo; e as visitas do chefe de Estado e do chefe de Governo à China.

Tendo em consideração a importância da gastronomia na cultura chinesa, não pudemos deixar de perguntar qual o seu prato favorito. A escolha recaiu na cozinha de Sichuan. O prato? Um suspeito do costume. O incontornável Frango “Kung Pao”, ou Gongbaojiding.

“Podia ser o prato português honorário”, afirmou entre risos.

De partida para Paris, Jorge Torres-Pereira garantiu que irá continuar a acompanhar a atualidade da China que, frisa, se trata de um “rearranjo geral de como as coisas se vão passar no mundo”. 

(Web editor: Renato Lu, editor)

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