Por Rita Zhang e Andreia Carvalho
Carlos Salema
De visita à China para participar no 10º Simpósio de Talentos de Alto Nível (10th Overseas High-Level Talent Symposium), Carlos Salema, professor Emeritus do Instituto Superior Técnico de Lisboa e presidente do Instituto de Telecomunicações de Portugal, partilhou com o Diário do Povo Online a sua visão sobre a evolução das telecomunicações e o plano da China de atrair os talentos de volta ao país.
O referido simpósio, coorganizado pelo governo municipal de Qingdao e pela Associação de Estudantes dos EUA e Europa (Associação de Estudantes Chineses no Estrangeiro), juntou mais de 100 académicos, provenientes de mais de 22 países, para discutir a iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” e a cooperação compartilhada na busca de inovação científica e tecnológica para o desenvolvimento comum.
Para o professor, cuja última visita à China data do ano 2002, o avanço tecnológico é notável: “é quase como outro pais, mudou tudo”, referiu.
Não só a China, “o mundo das comunicações, nos últimos anos, deu uma volta enorme”, reforçou, dando como exemplo as comunicações realizadas entre Lisboa e Macau aquando da transição. “Fui responsável pelas comunicações. E era horrível! Ainda não havia satélites, nem tinham sido inventados, (…) só podíamos comunicar a certas horas. Uma ligação com Macau dava muito trabalho. Hoje em dia é só carregar num botão”.
Impulsionado pela iniciativa do Cinturão e Rota, foi criado o projeto do Parque Académico, um complexo com uma área de 58 quilómetros quadrados, com vários edifícios, com o objetivo de congregar no mesmo lugar académicos, criadores e investigadores para a idealização de novos produtos inovadores.
“O Parque Académico (…) É um conceito muito interessante no qual, os novos empreendedores, e aqueles que querem vir para cá, têm as instalações, os apoios legais, financeiros e a parte das patentes. Uma pessoa que queira criar uma empresa, encontra aqui um clima muito favorável, com muita mão de obra qualificada para trabalhar”, comentou o docente.
Em contraste com outros países, os professores universitários são incentivados a participar nestes projetos de inovação, constatou.
“Em Portugal temos mais dificuldades. Podíamos fazer muito mais, mas as pessoas não estão interessadas por causa da falta de apoio. Aqui resolveram esse problema muito bem, arranjando maneira de tornar interessante para os professores praticar a inovação”, adicionou.
As parcerias entre Portugal e a China têm produzido frutos.
“Temos tido alguns projetos. Há 3 anos assinamos o primeiro grande contrato com a Huawei, que correu muito bem, pois fomos distinguidos com o Prémio de melhor colaboração internacional da Huawei no ano passado, o que deu direito a um segundo contrato”, frisou Carlos Salema.
Quanto ao futuro, o engenheiro revelou que gostaria que as parcerias com a China fossem alargadas às comunicações por fibra ótica, “nas quais somos dos melhores do mundo, temos dois recordes mundiais”, e às comunicações quânticas, onde “a China tem obtido avanços muito interessantes”.
A China tenta agora atrair os talentos que em tempos enviou para o exterior para aprimorarem as suas habilidades, “ e está a fazê-lo de forma muito inteligente, que é dando-lhes condições e tornando interessante o regresso”, afirmou.
Quanto ao futuro da China como líder da inovação, Carlos Salema considera que o gigante asiático “pensa e atua a longo prazo, não pensa para amanhã ou para ganhar as eleições, contrariamente ao ocidente (…) [onde] é muito raro um político ver à distância”
Atualmente, os produtos chineses têm-se tornado cada vez mais reconhecidos nos mercados mundiais. “Antigamente eram só coisas simples, agora a conversa já é outra, há produtos cada vez mais sofisticados. (…) O produto chinês está a dar a volta. Estão a começar a ser produtos de alto valor”.