Já passaram 38 anos desde que Gao Yuan tirou a sua primeira fotografia de turistas na Praça Tian’anmen, em Beijing.
Durante quase 4 décadas, Gao capturou mais de 700 mil retratos na praça da capital chinesa.
O fotógrafo testemunhou também várias mudanças, desde a passagem de fotos a preto e branco para fotos coloridas, dos trajes tradicionais às calças rasgadas, e da demora na impressão da foto, à instantaneidade dos tempos correntes.
Contudo, para Gao, é uma pena que cerca de 1000 fotografias nunca tenham sido reclamadas. Algumas pessoas que pediram o registro fotográfico indicaram a morada errada, outros tiveram que se apressar para os autocarros turísticos antes de conseguir a foto.
Gao tem tentado contactar os protagonistas das fotografias, tendo até mesmo recorrido ao Weibo, plataforma chinesa equivalente ao twitter, para procurar os donos das fotos.
“Muitos deles podem não voltar à praça, por isso a foto pode significar muito para eles”, disse Gao ao The Beijing News, acrescentando que iria continuar a guardar as fotos até encontrar os proprietários das mesmas.
Mais de 60% dos fotografados eram cidadãos idosos, revelou Gao. Muitos deles sentiam algo especial ao estar ali, muitos choravam enquanto a bandeira era hasteada, por isso registrar o momento naquele local é algo significativo para eles, revelou Gao.
Gao recordou o momento em que capturou a foto de um veterano que visitou a praça Tian’anmen pela primeira vez no Dia Nacional, 1 de Outubro.
A data coincidia com o 70º aniversário do veterano, que afirmou ter feito a viagem desde uma vila de Henan a Beijing.
Naquele dia chovia bastante, mas o homem insistiu em vestir o uniforme e posar para a foto, contou Gao, que se sentiu comovido com a história.
Gao recordou também outras pessoas com histórias emocionantes.
O fotógrafo relembrou ainda a história de um casal de idosos que durante 16 anos voltou ao mesmo local anualmente para registrar o momento em fotografia.
E um outro casal de Yunnan que viajou até Beijing para celebrar o 50º aniversário de casamento, e decidiram registrar a data com uma foto na qual seguravam os certificados de casamento.
“Sinto-me honrado por registrar estes momentos para as pessoas. Gostaria de reencontrar todos eles, e oferecer-lhes uma nova fotografia, mesmo que já esteja reformado”, disse Gao.
Gao Yuan conseguiu o emprego como fotógrafo na Praça Tian'anmen em 1979, na altura com 17 anos. Primeiramente, ele escolheu o ofício porque lhe permitia ganhar muito dinheiro, mas atualmente, continua a exercer a profissão pela paixão que sente pelo trabalho e pela responsabilidade do mesmo.
"Tenho dezenas de velhos amigos no meu WeChat, eles vêm à Praça Tian'anmen para tirar fotografias quase todos os anos e eu fico feliz por sempre me procurarem para tirar fotos", disse Gao.
"Eu não acho que seja apenas um fotógrafo, sou também um gravador - registro as mudanças dos nossos tempos", acrescentou.
Quanto às fotos não reclamadas, Gao disse que o uso do Weibo se mostrou eficaz. Em setembro passado, um camponês de Henan entrou em contato com ele, afirmando que ele e o pai tinham tirado uma foto na praça quando ele tinha 18 anos, mas que nunca a chegaram a recebê-la.
Gao enviou então várias fotos com base na descrição do homem, acabando por encontrar a fotografia, que tinha sido capturada nos anos 90.
"Reportagens mediáticas sobre mim também me irão ajudar a encontrar os donos das fotos, ", disse Gao. "Se eu conseguir encontrar essas pessoas, o que pretendo fazer é tirar-lhes uma nova foto, é como um ritual, o meu ritual".