Brasília, 24 mai (Xinhua) -- Enquanto o presidente do Brasil, Michel Temer, enfrenta a possibilidade de ser afastado com sua credibilidade criticamente corroída pelas alegações de corrupção, observadores acreditam que o Brasil está buscando opções para enfrentar a crise política.
Apesar de Temer negar qualquer irregularidade e se recusar a renunciar, a existência de gravações potencialmente incriminatórias levou os principais apoiantes de seu governo a se distanciar da presidência.
Um ponto de virada ocorreu na sexta-feira, quando o influente jornal O Globo publicou um editorial pedindo que o presidente renuncie, fazendo eco às demandas dos partidos de oposição esquerdistas.
Analistas políticos têm debatido publicamente o que vem a seguir para o presidente: uma saída voluntária ou impeachment.
Paulo Kramer, cientista político da Universidade de Brasília, acredita que, apesar da insistência de Temer em permanecer no poder, é provável que uma pressão crescente o leve a sair espontaneamente.
"Acho que a elite política e empresarial quer uma resolução rápida, esta crise política e ética surge numa época em que a economia começa a mostrar sinais de vida, de recuperação," disse.
"A crise aumenta os receios de que vamos retroceder e que esta difícil recuperação será interrompida," explicou.
O Brasil não é estranho à crise política, com a predecessora de Temer, Dilma Rousseff, tendo sido acusada de supostas violações fiscais, embora tenha sustentado que foi um golpe legislativo politicamente motivado.
No entanto, o espectro de um julgamento de impeachment menos de um ano após o último é altamente desagradável, pois poderia afetar tanto a economia e as instituições.
"A maior probabilidade é a demissão do presidente, a impressão é que ao ser atacado pelo principal grupo de mídia do país, O Globo, Temer tem menos chances de manter a confiança de seus aliados," disse Kramer.
Na verdade, os aliados já estão abandonando o que eles obviamente veem como "um navio afundando".
No sábado, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) anunciou que estava se retirando da coalizão governista e buscando a saída de Temer.
"Se a base de aliados principais sair, o governo de Temer terminará," disse o Kramer.
David Fleischer, cientista político da Universidade de Brasília, concorda com Kramer.
As chances de Temer de enfrentar a tempestade e manter seu posto são pequenas, especialmente porque o pacote de reformas econômicas do seu governo está parado, disse ele.
De acordo com a legislação brasileira, o presidente da Câmara dos Deputados tem 30 dias para organizar as eleições legislativas para escolher um substituto para um presidente que sofrer impeachment, e alguns nomes têm sido contornados, incluindo Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, Carmen Lúcia, presidente da Suprema Corte, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
"Uma resolução para a crise seria eleger um presidente que dê continuidade ao atual programa econômico de austeridade e reformas, e se reúna com a aprovação do Congresso para restaurar a confiança dos investidores nacionais e internacionais," disse Fleischer.
Pode até haver uma terceira opção.
O principal órgão eleitoral da nação, o TSE, lançou recentemente uma investigação sobre o financiamento de campanhas ilegais nas eleições gerais de 2014, especificamente para saber se Rousseff e seu colega de campanha, Temer, receberam financiamento ilegal.
Se as regras do tribunal forem aplicadas, a instituição poderia decidir simplesmente anular o resultado eleitoral, o que significa que Temer teria que renunciar de qualquer maneira. O caso está programado para ser ouvido no dia 6 de junho.
Se o TSE anular a eleição, provavelmente ainda dependerá do Congresso para eleger um presidente interino para completar o atual mandato presidencial até o dia 1 de janeiro de 2019.
Nas gravações que surgiram na semana passada, Temer pode aparentemente ser ouvido aprovando subornos para comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, na segunda-feira, adiar a audiência programada para quarta-feira sobre as alegações de corrupção de Temer, levando em consideração a petição de Temer de que o caso seja retirado.
A presidente da STF, Carmen Lúcia, disse que o tribunal considerará o pedido somente depois que especialistas analisarem as gravações nas quais Temer parece estar solicitando o pagamento de subornos a seu ex-aliado político.
O futuro de Temer pode depender do fato de o tribunal concordar em deixar de investigar as acusações, enquanto ele insiste que não renunciará, a não ser que seja forçado a sair, como disse em uma entrevista da segunda-feira com o diário regional Folha de São Paulo.