Opinião: Cúpula do G20 chega a Hangzhou num momento oportuno

Fonte: Diário do Povo Online    29.08.2016 16h40

Por Martin Jacques

A Cúpula do G20 chega a Hangzhou num momento apropriado em meio à evolução do relacionamento chinês com a economia global e sua governança.

A entrada formal da China na economia global foi marcada pela sua integração na OMC em 2001. Mais de uma década depois, a China mantém-se no pano de fundo enquanto estuda a forma de desempenhar o seu status recém-adquirido, com um crescimento econômico a atingir em média os 10%, a China se tornará o maior país de comércio no mundo.

Nos últimos dois anos, no entanto, a China passou de um participante passivo a interveniente proativo. Ao invés de seguidor, a China se tornou em um colaborador no processo de globalização. Há dois exemplos óbvios que indicam o novo papel da China: a formação do Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (BAII), que será, sem dúvida, a maior instituição financeira infraestrutural na Ásia; e a iniciativa “Um Cinturão e Uma Rota”, que será o programa de desenvolvimento multinacional mais ambicioso já engendrado.

O maior e único problema que a China irá encontrar enquanto anfitriã da Cúpula do G20 é que, enquanto o seu alcance global está em extensão em várias áreas, como o BAII, investimento no exterior, expansão do papel do Renminbi, e na internacionalização das suas companhias, o crescimento do comércio e investimento internacionais registram uma queda. Pior ainda é que o Ocidente dá sinais de crescente revolta popular contra a globalização. As ilustrações mais dramáticas disso são a ascensão de Donald Trump e Bernie Sanders cujos argumentos acusam a globalização de prejudicar a empregabilidade da classe operária nos EUA. O outro exemplo é a votação do Brexit no Reino Unido, com 52% da população britânica a favor da saída da União Europeia.

As tendências supracitadas não podem ser ignoradas, já que gozam de uma base profunda de popularidade no RU e EUA, entre outros países. O problema não se trata da globalização em si mesma, mas sim do tipo de globalização que se busca; nomeadamente, a enorme secção da população nos EUA e Europa que não foi beneficiada, enquanto uma minoria rica vem a agravar a desigualdade e provocar o clima de ressentimento.

Os quatro temas escolhidos para a cúpula em Hangzhou são bem relevantes. “Quebrar um novo caminho para o crescimento” é o problema-chave em diante da economia global em meio à recessão. O ocidente nunca se recuperou da crise financeira e não mostrou ainda sinais de tal. A política de resposta à estagnação foi inadequada tanto nos EUA como na Europa. Eles dependem totalmente da política monetária, e, acima de tudo, da flexibilização quantitativa, que não pode retomar o crescimento singularmente.

A importância da China, no padrão global, consiste no crescimento rápido e na continuação do seu compromisso forte com a importância da globalização e da interdependência. O país está numa posição poderosa- em virtude do seu desempenho e compromisso com a globalização – para oferecer um modelo diferente para o futuro, baseado no crescimento, cooperação e diferentes variantes de globalização. O ocidente precisa de adotar uma diferente resposta política, que reconheça a necessidade de estimular a demanda efetiva. Tal não pode ser alcançado só pela dependência na política monetária. Os Estados Unidos, por exemplo, têm uma infraestrutura decadente que impede o seu crescimento, necessitando de destinar um grande montante de dinheiro para renovar as infraestruturas, como fizeram na década de 1930.

Devo mencionar a segunda prioridade da cúpula: “uma governança econômica e financeira global mais efetiva e eficiente”. Há claramente uma crise subjacente e intensificada nesta área. Não é preciso ser Albert Einstein para compreender o porquê. Há uma mudança dramática no centro da gravidade da economia global, que oscila do mundo desenvolvido para o mundo em desenvolvimento durante os últimos 40 anos. Mas a estrutura da governança econômica global alterou pouco durante as recentes décadas.

Os dois desenvolvimentos significantes foram a substituição substancial do G7 pelo G20 e as mudanças no sistema de votação no FMI e no Bando Mundial. Ao nível informal há mais mudanças dramáticas, sobretudo a formação do BAII e Novo Banco de Desenvolvimento, e a ascensão do Renminbi enquanto moeda internacional. A iniciativa “Um Cinturão e Uma Rota” também prefigura novos modelos de governança bilateral e multilateral. Essas alterações são o embrião da nova estrutura de governança econômica global que está no processo da criação.

Claro, a governança é sobre o poder. O problema atual é que a presente estrutura não demonstra a distribuição do poder econômico no mundo. A maior consequência é que o FMI e o Banco Mundial, que dependem na sua maioria nos países ocidentais e Japão, não têm mais recursos para financiar uma economia ainda maior. Um papel óbvio do Banco Mundial pode ser o financiamento para o desenvolvimento infraestrutural na Ásia. Mas, devido a ser uma instituição ocidental, não tem recursos nem disponibilidade política para tal.

Visto que a China é atualmente um dos países com maior desenvolvimento no mundo e se situa no coração do futuro da economia e governança globais, a cúpula em Hangzhou acontece num momento histórico. Se a China puder oferecer algumas propostas imaginativas no evento, esta edição da cúpula será memorável. 

(Editor: Renato Lu,editor)

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