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Tragédia em Mariana: A imprensa, o governo e os preços do minério de ferro

Fonte: Diário do Povo Online    12.11.2015 16h45

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, deverá sobrevoar nesta quinta-feira (12) a região de Mariana e Governador Valadares em Minas Gerais, e Colatina no Espírito Santo, para avaliar os impactos sociais e ambientais causados pelo rompimento de duas barragens da Samarco. Até o momento, oito mortes foram confirmadas, 21 pessoas continuam desaparecidas e centenas estão desabrigadas.

No último dia 5, duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco se romperam devastando o distrito de Bento Rodrigues, contaminando o meio ambiente e causando estragos em um trecho de mais de 100km.

A Samarco é um empresa que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, duas das três maiores mineradoras do mundo. A Vale do Rio Doce é uma empresa brasileira e a maior produtora de ferro e níquel do mundo. Criada em 1942, foi vendida pelo governo brasileiro em 1997 por meio de um processo de privatização.

Responsabilidade pela tragédia

A jornalista Míriam Leitão disse na terça-feira (10) em sua coluna no jornal O Globo que a tragédia em Mariana não era inesperada uma vez que tanto especialistas como o Ministério Público de Minas Gerais já haviam alertado para os riscos das atividades na região. A famosa jornalista brasileira também faz questionamentos sobre o gerenciamento corporativo e o comportamento público em relação a tragédia. Parte da mídia no Brasil tem criticado a forma como a Vale tem respondido e se posicionado diante do desastre. O seu presidente, Murilo Ferreira, é criticado por ter divulgado uma nota em vez de falar com a imprensa e embarcar imediatamente para a região, como fez Andrew Mackenziem, presidente da BHP.

O Comunicado conjunto dos CEOs da Vale e da BHP Biliton, publicado no site da Vale, diz que a “prioridade no momento é entender a extensão das consequências do rompimento das barragens e como podemos providenciar apoio adicional”. O comunicado também cita a criação de um fundo de emergência para trabalhos de reconstrução e ajuda as famílias e comunidades afetadas.

Para Míriam Leitão, o comportamento público também é passível de crítica. A contaminação dos rios trouxe riscos de abastecimento enquanto a Agência Nacional de Águas é criticada por não se manifestar sobre o que pode ser feito a respeito. A presidente Dilma Rousseff também tem sido questionada por parte da imprensa brasileira por não ter visitado a região imediatamente ao rompimento das barragens, principalmente porque o desastre aconteceu em Minas Gerais, estado que teve importante papel no processo de reeleição da presidente.

Por outro lado, segundo reportagem publicada pelo O Tempo, a presidente Dilma disse que a demora em visitar a região se deve ao fato de que era necessário deixar claro de quem é a responsabilidade pelo desastre antes de visitar os entornos de Mariana. Dilma quer que as empresas arquem com todos os custos de atendimento à população, fornecimento de água, reconstrução de casas e estradas. Segundo reportagem do Estadão, o Ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, disse que tanto a Vale como a BHP se mostraram dispostas a atender o pedido do governo.

As Minas Gerais

A cidade de Mariana, onde está localizado o distrito de Bento Rodrigues, foi a primeira vila a ser fundada em Minas Gerais após a coroa portuguesa descobrir que a região era rica em minérios e recursos naturais.

Minas Gerais, que é hoje um dos estados mais ricos do Brasil e cujo território comporta a França e a Bélgica juntas, foi palco da Inconfidência Mineira, um dos principais movimentos anticoloniais do século XVII.

Preço dos Minérios

A China é a maior consumidora de minério de ferro do mundo, importando dois terços de todo o minério comercializado internacionalmente.

A Vale foi a primeira empresa do mundo a exportar minério de ferro para a China, em 1973. Em 2014, os minérios foram o segundo produto brasileiro mais exportado para a China, perdendo apenas para soja em grãos e sementes.

O rápido processo de urbanização e crescimento econômico da China solidificaram as relações da empresa brasileira com o mercado chinês ao longo das últimas décadas.

Segundo a BBC, a tragédia com a barragem construída pela Samarco, um consórcio entre a Vale e a BHP, jogaram as ações da BHP para o seu nível mais baixo em sete anos, enquanto as da Vale sofreram queda de 7% na semana passada.

Para bancos e consultorias de investimento, o acidente pode afetar o preço do ferro no mercado internacional além dos projetos e resultados das duas empresas.

O Citi revisou o valor do produto para o final de 2015 de US$ 40 para US$ 50 e previu queda na produção brasileira de minério de ferro. O Deutsche Bank ressaltou que a Samarco é responsável por 2% da produção de minério de ferro comercializada no mercado internacional e prevê que os preços poderão subir em 2016.

Entretanto, para José Mendes, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração, essas estimativas podem estar superestimadas e é muito cedo para fazer qualquer análise sobre como o mercado da mineração será afetado. 

Por: Rafael Lima

(Editor:Renato Lu,editor)