Português>>Atualidade

"Queremos continuar de forma qualitativa a desenvolver a relação com a China", entrevista com MRE de Angola

Fonte: Diário do Povo Online    08.12.2023 09h32

Por Mauro Marques e Zhang Rong

Téte António, ministro das Relações Exteriores de Angola

Téte António, ministro das Relações Exteriores de Angola, está atualmente de visita à China no âmbito do fortalecimento das relações bilaterais. Entre várias deslocações de âmbito cultural, económico e científico, o chefe da diplomacia angolana esteve também reunido com o seu homólogo, Wang Yi, entre outros dirigentes chineses.

Em entrevista concedida ao Diário do Povo Online, o ministro aborda alguns aspetos de destaque das relações entre a China e Angola, num ano em que é comemorado o 40º aniversário do estabelecimento de laços diplomáticos entre os dois países. Quarenta anos que se traduzem numa "idade de maturidade", afirma, em que as relações "são excelentes e são relações com muito conteúdo".

É precisamente a efeméride que predispõe o entrevistado a relembrar o papel desempenhado pela China "num período extremamente difícil da nossa história como país. País que saía de um conflito que destruiu a maioria das nossas infraestruturas. Que afetou o tecido social, mas também que afetou, por conseguinte, a economia angolana".

Téte António alude ao período de instabilidade, ocorrido no seguimento do conflito no seu país, e à dificuldade em obter financiamento para o esforço de reconstrução. "Nós tivemos que encontrar uma solução que pudesse alavancar esta reconstrução do país e batemos à porta da China, que nos abriu a mão e que, portanto, foi determinante para a reconstrução da República de Angola", refere.

O investimento chinês que, entretanto, nas palavras do entrevistado, atravessou um "salto qualitativo" ao longo do tempo, tem vindo a desempenhar um papel de destaque no apoio à construção de "infraestruturas vitais", ou "projetos estruturantes, como são hoje certas iniciativas de construção de barragens como Caculo Cabaça".

Sobre a barragem, o ministro manifestou, inclusive, o apelo à renovação do investimento chinês, por forma a garantir o término de uma obra que designa "de importância estratégica para a República de Angola".

Destacando o contributo da numerosa comunidade empresarial chinesa em Angola, Téte António indica que, além do apoio prestado na reconstrução do país, os empresários ajudam a definir "a base para o desenvolvimento socioeconómico da República de Angola".

É nesse contexto que surge a assinatura do Acordo sobre a Promoção e Protecção Recíproca de Investimentos (APRI), entre os governos de Angola e China, na quarta-feira, 6 de dezembro. O entrevistado enfatiza a importância da estabilidade e segurança aquando da tomada de decisão de investir num país por parte dos empresários. O acordo, afiança, "coloca os empresários mais à vontade para poder investir em Angola, porque sabem que o seu investimento também está protegido. Os seus ganhos não serão perdidos. Este acordo entra, portanto, em consonância com medidas de reformas que nós tomamos como país".

Entre as medidas suprarreferidas, o entrevistado chama a atenção para o recente anúncio do governo angolano da isenção unilateral de vistos de turismo para cidadãos de 98 países, nos quais a China está incluída.

No que concerne aos desafios enfrentados pelo seu país, o ministro fala num período de transição, "no sentido de sairmos de um paradigma que é comum a todos os países africanos". Essa mudança de paradigma, explica, prende-se com a necessidade do país ir além da exportação de matérias-primas no seu estado bruto, passando a ter autonomia para executar a sua transformação.

"Nós gostaríamos que, nessas parcerias, fôssemos capazes de transformar também, in loco, as matérias-primas para diversificarmos a economia. Porque quem não transforma a matéria-prima, significa que a mais-valia não é criada, e quem não cria mais-valia não cria condições para o desenvolvimento, não cria condições para o emprego de uma população jovem", afirma.

"Nós estamos numa localização geográfica e geopolítica muito estratégica. Angola está entre a África Austral e a África Central, por isso pertencemos a uma comunidade económica da África Central e à comunidade de desenvolvimento da África Austral. É, portanto, uma janela para a região de 500 milhões de consumidores", elabora, colocando o seu país num contexto internacional mais alargado, designadamente enquanto porta de acesso à Zona de Comércio Livre Continental Africana.

No término do roteiro de viagem à China, está prevista uma deslocação a Shenzhen, renomada pelo seu dinamismo no setor científico e tecnológico.

"Ontem nós visitamos o Museu da História do Partido Comunista da China. Este museu permitiu-nos ver o percurso que a China teve até à China que conhecemos hoje. Essa cidade é quase o símbolo, também deste percurso da China, com desenvolvimento tecnológico, que nós vamos visitar", aponta o entrevistado, fazendo referência ao papel desempenhado pela Huawei, empresa sediada naquela cidade chinesa, no seu país.

"Manifestamos a nossa satisfação pelo que a Huawei conseguiu fazer em Angola, no sentido de trazer não só a vertente da publicidade dos seus produtos, mas também a vertente da formação dos jovens angolanos e da digitalização da vida, não só vida económica, mas também vida académica".

No plano do intercâmbio cultural, o ministro adverte que "a relação entre os países não deve ser só do ponto de vista dos cálculos económicos". A garantia do sucesso no plano cultural, para o entrevistado, depende do papel da formação e da interação entre os povos dos dois países.

"O intercâmbio intercultural é o maior embaixador, porque é a linguagem que rapidamente passa entre os povos. E nós, com a China, temos que continuar a primar pela formação do Homem angolano, que é muito importante. Aliás, é esse o país que nos ensinou que é melhor ensinar alguém a pescar do que dar-lhe o peixe", conclui.

0 comentários

  • Usuário:
  • Comentar: