Por Mauro Marques e Zhang Rong
Nos momentos finais do 3º Fórum Cinturão e Rota para Cooperação Internacional, que teve lugar em Beijing nos dias 17 e 18, o Diário do Povo Online entrevistou Evandro Menezes de Carvalho, professor e coordenador do Núcleo Brasil-China da FGV Direito Rio e professor de direito internacional da Faculdade de Direito da UFF.
Instado a comentar o discurso do presidente Xi Jinping, o pesquisador salientou dois fatores. Primeiramente, "a importância de promover um entendimento cultural, um diálogo cultural, um conhecimento melhor da Iniciativa Cinturão e Rota através de pesquisas, da promoção desse tipo de conhecimento, porque isso é uma base importante que se conecta com um dos 5 eixos, que é o do intercâmbio entre pessoas".
"Não adianta só um intercâmbio entre pessoas por conta da relação comercial", adverte, "é preciso que todos os atores envolvidos, e não só da área comercial, tenham uma compreensão do significado e do potencial dessa iniciativa".
Em segundo lugar, chamou a atenção para a proposta de ser criada uma secretaria da Iniciativa Cinturão e Rota. "Essa é uma ideia formidável, porque isso permite uma centralização da informação do que está sendo feito em vários países. Hoje você não tem essa informação fácil".
A criação da secretaria, segundo o entrevistado, possibilita "uma maior transparência, porque todos podem saber o que está sendo feito, como está o andamento dos projetos".
Evandro Carvalho aproveitou ainda para estabelecer uma comparação com o BRICS, que, no seu entendimento, beneficiaria também da criação de um organismo análogo.
"Eu sempre faço a comparação com o BRICS. Eu, do Brasil, acho que sou uma das poucas pessoas que tem o ressentimento, e defendido, que o BRICS tenha uma secretaria administrativa. O BRICS tem já diversos projetos, mas hoje, se qualquer pessoa, como eu, por exemplo, pesquisador, quiser uma informação oficial sobre o BRICS, não vai encontrar em lugar nenhum. Não tem sequer um website. Então, acho que essa iniciativa para o Cinturão e Rota, ela é muito bem-vinda, ela dará densidade maior ao projeto", argumenta.
O pesquisador enfatiza o caráter voltado para o futuro da iniciativa, a expectativa em torno dos projetos que poderão ser realizados e de que modo essa atividade internacional pode contribuir para conferir estabilidade ao mundo.
Evandro Menezes de Carvalho, professor e coordenador do Núcleo Brasil-China da FGV Direito Rio e professor de direito internacional da Faculdade de Direito da UFF (Foto: Su Yingxiang/Diário do Povo Online)
"Eu acho que esse fórum chega num bom momento, depois do mundo ter passado por uma pandemia, e mesmo num mundo agora tão complicado, tão instável. A China insiste num projeto que permite promover um maior entendimento entre as nações. Isso é muito positivo", refere.
Tais propostas, explica, têm um impacto que vai além do escopo dos países participantes, pois, indiretamente, "os projetos financiados pela Iniciativa Cinturão e Rota beneficiam não só os países que são destinatários desses projetos, obviamente, os bancos chineses que emprestam, etc, mas também até países terceiros".
"Eu vi agora há pouco um relato, de um dos palestrantes, sobre a ponte que foi construída na Croácia com o investimento da Iniciativa Cinturão e Rota que acabou permitindo uma maior interação da Croácia com a Europa e o ingresso dela no espaço Schengen europeu", exemplifica, prognosticando um futuro positivo para os próximos 10 anos.
