Por Pedro Sobral*
A cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno 2022 em Beijing foi uma ocasião mágica que constitui o resultado de anos de esforço do Comité Olímpico e do povo chinês. Tendo desfrutado do privilégio de assistir ao evento, não podia deixar de registar algumas reflexões e opiniões sobre esta experiência marcante.
Reunir condições para a realização de um evento internacional desta magnitude, numa altura em que a pandemia alastra ainda por todo o mundo, constitui realmente uma grande realização, apenas possível graças ao esforço e sacrifícios de inúmeros profissionais, assim como à colaboração de toda a população nos esforços de prevenção epidémica. Tal facto foi, inclusive, reconhecido pelo presidente do Comité Olímpico Internacional Thomas Bach que, durante a sua comunicação, elogiou toda a organização chinesa do evento. Na verdade, não fossem as agora omnipresentes e imprescindíveis máscaras e a distância de segurança mantida através dos assentos que nos foram atribuídos, achar-se-ia que a pandemia tinha já passado, reduzida a uma memória distante.
A organização do evento foi bastante atenciosa, fornecendo transporte até ao local e garantindo que não faltavam comida e bebida. Já no Estádio Nacional, foram disponibilizados cobertores, luvas e gorros para ajudar a combater as baixas temperaturas que se faziam sentir. Não que tenhamos sentido frio durante muito tempo: no caminho para o Estádio, e mau grado as temperaturas bem abaixo de zero, dezenas de jovens voluntários receberam-nos com sorrisos sob as máscaras e votos de um feliz Ano Novo Chinês, aquecendo os nossos corações. Mesmo após o evento terminar, lá estavam eles novamente para se despedir de nós, sem dúvida cansados e com frio, mas também satisfeitos pelo sucesso da cerimónia e cientes de terem contribuído para tal. A sua simpatia e solicitude fez-nos sentir bem-vindos e uma parte importante desta ocasião especial.
As várias performances artísticas, que envolveram gente de todas as idades, constituíram um verdadeiro espetáculo de movimento, música e cor perante o qual foi impossível não acenar e aplaudir. Para um mero espetador, é simplesmente impossível imaginar quanto tempo e energia foram empregues na criação, ensaio e execução de todas as coreografias. Os assombrosos efeitos especiais, feitos com as mais avançadas tecnologias, foram um regalo para os olhos e a sequência de contagem decrescente, dirigida pelo renomado cineasta Zhang Yimou e que culminou com um espetáculo de fogo de artifício, certamente não deixou ninguém indiferente. A fusão cinematográfica de paisagens de cortar a respiração, cenas das celebrações tradicionais de Ano Novo Chinês e ação desportiva foi a maneira perfeita de celebrar esta ocasião duplamente especial. Foi, para mim, um dos grandes destaques da noite.
Foi uma noite onde se celebraram força, velocidade, perseverança e dedicação. Mas foi sobretudo, creio eu, também uma celebração do Futuro, de um Futuro Compartilhado. Como tal, foram as crianças, em cujos olhos e sorrisos este Futuro está guardado, as verdadeiras estrelas do espetáculo. Desde a interpretação irrepreensível de “Me and My Homeland” (我和我的祖国) à execução coral do Hino Olímpico, à peça final “Snowflakes” (雪花) que serviu de tema para o acendimento da Tocha Olímpica (simbolicamente transmitida dos atletas mais velhos para os mais jovens), ficou claro que estávamos testemunhando os desejos e aspirações das gerações mais jovens por um amanhã mais próspero e pacífico.
Pois esta tocha que agora seguramos, em breve a passaremos a elas.
*O autor é doutorando em Literatura Chinesa na Universidade de Macau e leitor de língua portuguesa na Universidade de Pequim.