De 1972 a 2009, Chen Duqing, trabalhou como embaixador da China e diplomata sênior. Desses 37 anos de carreira diplomática, exerceu 13 anos no Brasil.
O ano de 2019 marca o 70º aniversário da fundação da República Popular da China e o 45º aniversário das relações diplomáticas entre a China e o Brasil. Chen, com 72 anos da idade, que testemunhou momentos históricos entre os dois países, concedeu entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online, contando sua história com o país latino-americano e a história do estabelecimento das relações diplomáticas sino-brasileira.
Primeira impressão do Brasil
Depois que a China retomou seu assento nas Nações Unidas em 1971, o Ministério das Relações Exteriores começou a reunir talentos de idiomas estrangeiros das províncias, e foi nessa época que Chen iniciou sua carreira diplomática.
A delegação chinesa, chefiada por Chen Jie, então vice-ministro do Comércio Exterior, chegou ao Brasil a 6 de agosto de 1974, tendo Chen Duqing participado da negociação das relações diplomáticas como intérprete.
"As negociações foram realizadas de forma rápida e eficiente, logo que chegamos,” o ex-embaixador mergulha-se na memória após 45 anos da sua primeira visita ao Brasil.
Chen disse ao Diário do Povo Online que, após aterrar no Rio de Janeiro, o governo brasileiro enviou um jato militar para transportar a delegação chinesa à Brasília, capital do Brasil.
“Em 1974, Brasília era completamente nova, existindo apenas um semáforo em toda a cidade. Os prédios e as áreas funcionais urbanas estavam bem organizadas”, descreveu Chen, que ficou espantado e surpreso com o desenvolvimento do Brasil.
"Até abril de 1985, quando terminei minha primeira missão permanente no Brasil, não é exagero dizer que o país latino-americano estava anos à frente da China em todos os aspectos", acrescentou ele.
No entanto, quando retornou ao Brasil como embaixador chinês em 2006, Chen Duqing descobriu que o desenvolvimento da China já havia superado o do Brasil.
“Completamos uma grande missão em 1974”
Já foram abertos os canais de comunicação não governamental entre os dois países desde a década de 1950. Entretanto, devido ao “caso dos nove chineses”, que foram presos em 1964 pelo governo militar do Brasil, os laço foram completamente cortados.
Sete anos após, as tensões entre os países começaram a ser diminuidas primeiramente no setor de comércio.
Em 1974, depois da posse do então presidente Ernesto Geisel, uma delegação brasileira de exportadores visitou a China, incluindo os membros provenientes do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério do Planejamento. Ao chegar a Beijing, a delegação foi recebida por Lin Ping, ex-diretor do Departamento de Assuntos das Américas e Oceania do Ministério das Relações Exteriores da China, expressando sua esperança de desenvolver relações diplomáticas com o país asiático.
Chen Duqing disse ao Diário do Povo Online que, a visita no ano de 1974 ao Brasil foi inicialmente planejada para fazer os trabalhos preparatórios para o estabelecimento das relações diplomáticas. Mas graças às atitudes positivas dos dois lados e ao bom andamento das negociações, o acordo foi estabelecido de forma eficiente.
O dia 15 de agosto de 1974 entrou na história das relações diplomáticas da China e do Brasil. “Em 1974, completamos uma grande missão. O estabelecimento de relações diplomáticas sino-brasileiras é um grande passo tanto para a China como para toda a região latino-americana."
“Brasil, minha segunda terra natal”
Para o Chen Duqing, o Brasil já se tornou a sua segunda terra natal.
Durante seu tempo como embaixador no Brasil, Chen Duqing sempre tomou a iniciativa de promover a imagem da China, ministrando palestras nas universidades, institutos, e associações de indústria e comércio no Brasil, concedendo entrevistas para canais de TV e jornais e esclarecendo curiosidades sobre a China.
Entre os dias 19 e 24 de maio, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, realizou uma visita oficial à China. Chen acredita que a visita tem um papel importante em esclarecer as dúvidas e orientar as cooperações, podendo impulsionar os dois lados a tomar medidas mais práticas.
Além da cooperação econômica e comercial, Chen Duqing acredita que os dois países também devem fortalecer as comunicações nas outras áreas, tais como cultura e mídia, especialmente entre think tanks.
Chen salientou que é importante ouvir as distintas opiniões de todas as partes. "Devemos ser pragmáticos, manter comunicação com todas as partes e espalhar nossa voz por meio de intercâmbio ".