O plenário de abertura do Encontro dos Novos Líderes do Fórum Económico Mundial de 2015, em Dalian, no nordeste da China a 10 de setembro de 2015
PEQUIM, 15 de setembro (Diário do Povo Online) - A China parece estar na mesma posição, a nível económico, que o Japão estava no início da década de 70. O Japão dependia fortemente das exportações para atingir o crescimento extraordinário da década de 50 e 60. O crescimento do país cessou em 1973 com a crise do petróleo, que também tivera um impacto devastador na economia mundial. Durante as próximas décadas, o PIB do Japão viria a crescer a 3,4 ao ano, cerca de 40% dos valores que atingira nos 20 anos precedentes à crise do petróleo. Quando a bolha imobiliária japonesa rebentou em 1993, o PIB japonês começou um longo período a registar um crescimento de virtualmente 0%, acompanhado da queda dos preços domésticos.
Analistas geralmente associam o “síndrome japonês” com o crescimento dependente dos impostos e com as alterações demográficas. A dependência das exportações tornou o Japão vulnerável às crises económicas mundiais, pois as poupanças acumuladas pela via das exportações constituíam a fonte das bolhas imobiliárias.
Em termos de demografia, a população ativa do Japão atingiu o seu pico em 1993, tendo depois disso começado a envelhecer gradualmente. De facto, tem agora a maior proporção de população idosa do mundo. Uma das graves consequências do envelhecimento populacional do Japão é o contínuo declínio da procura no mercado doméstico.
A China, da mesma forma, seguiu um modelo baseado em exportações para conseguir um rápido desenvolvimento económico. Tal como a crise de 1973, a crise financeira de 2008 também atingiu gravemente a economia mundial. Como resultado, as exportações da China acusaram alguma desaceleração desde aí. E, tal como no Japão no final da década de 80, as poupanças conseguidas através das exportações, contribuíram para as bolhas imobiliárias e do mercado de ações.
Além disso, a alteração demográfica da China leva um avanço de 20 anos face ao Japão, em termos do PIB per capita dos dois países. O PIB per capita da China é hoje equivalente ao do Japão no início da década de 70, mas a população ativa da China já começou a decrescer. Daqui a 10 /15 anos, a geração do “baby boom” chinês, ou seja, o período entre 1963 e 1976, vai abandonar o mercado de trabalho. Tendo isso em conta, a economia chinesa poderia ter o mesmo destino da japonesa.
Contudo, a China tem duas vantagens. Tem uma população 10 vezes maior que a japonesa e um território muito maior. Por um lado, o PIB per capita das 9 províncias litorais é o dobro das províncias do interior. Por isso, a força de convergência vai assegurar que as províncias do interior continuam a crescer, assim que a área litoral se torne desenvolvida.
Os países da Europa de leste são um bom exemplo da força de convergência. Nos anos 90, estes países foram devastados pela radicalidade com que alteraram o paradigma de economia de comando para o de economia de mercado. O ponto de viragem deu-se quando se juntaram à União Europeia e adotaram o euro, o que tornou o seu atraso numa grande vantagem. Agora, muitos deles fazem parte dos países com rendimentos elevados.
A China, como economia, representa toda a Europa. A crise financeira mundial deu às províncias do interior da China uma oportunidade para se aproximarem dos níveis de crescimento das províncias do litoral. Graças aos esforços das autoridades chinesas para balancear a distribuição da indústria por todo o país, várias cidades do interior tornaram-se centros industriais, estando já preparadas para receber as unidades de produção que migram do litoral para o interior. O grande investimento da Samsung em Xi’an, na província de Shaanxi, é um bom exemplo.
É por isso bastante provável que a China consiga um melhor desempenho do que o Japão alcançou entre 1973 e 1993. Porém, para que as províncias do interior consigam reduzir a diferença que as separa da área litoral, em 20 anos, terão de crescer 3.5% mais rápido. E, mesmo com um crescimento adicional de 3.4%, o mesmo do Japão entre 1973 e 1993, o país inteiro teria de crescer a 5.4%.
Embora seja muito inferior ao que a China atingiu antes de 2010, este ritmo de crescimento permitiria ao país criar uma sociedade muito mais rica em 20 anos, sendo que o PIB per capita real da China, poderia atingir os 28,600 dólares (medido de acordo com a Paridade de Poder de Compra atual).
Deste modo, a China deverá substituir os EUA como o maior mercado de consumo do mundo, o que seriam boas notícias para o resto do globo.